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Análise: relações do Brasil com a África não podem ficar à mercê da vontade política de cada governo
Análise: relações do Brasil com a África não podem ficar à mercê da vontade política de cada governo
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Uma das nações mais populosas e ricas da África, a Nigéria é parceira estratégica do Brasil na região. Essa relevância ficou evidente nos acordos bilaterais... 19.09.2025, Sputnik Brasil
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Entre os destaques estão memorandos de transferência de tecnologia e cooperação em ciência, tecnologia e inovação, sobretudo no agronegócio.As possibilidades de trocas comerciais e vantagens recíprocas são inúmeras, mas a lógica desses acordos deve necessariamente se basear na solidariedade tão aclamada nos discursos que defendem o fortalecimento das relações Sul-Sul, disseram especialistas ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, desta sexta-feira (19).A transferência de tecnologia e de cooperação Sul-Sul deve avaliar os impactos sociais nos países envolvidos, ponderou a doutora em antropologia social pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Ana Carolina Costa.Segundo ela, o Brasil não pode reproduzir uma lógica de imperialismo dentro dessas cooperações, que chamou de "subimperialismo" — quando um país periférico é ao mesmo tempo explorado pelo sistema capitalista global e explora outros países também periféricos.A pesquisadora deu como exemplo o projeto ProSavana, em Moçambique, que envolvia o Brasil e Japão, cujo objetivo era desenvolver a agricultura no norte do país:Para o professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Alexandre Alvarenga, a cooperação mais horizontal com países do continente africano pode ser o diferencial brasileiro na desigual disputa por projeção com potências internacionais:Nesse sentido, o exercício do Brasil dever ser o de resgatar o passado e também ressignificar essas relações para um futuro onde os dois continentes possam prosperar, defendeu Alvarenga.O catedrático lembrou que esse tipo de aproximação entre o Brasil e países parceiros na África tem ocorrido gradualmente desde a década de 1960, com missões comerciais, aberturas de embaixadas, visitas presidenciais e maior articulação com países africanos dentro da ONU, perdão de dívidas, maior número de cooperações com instituições na área de saúde, defesa etc.A primeira gestão de Lula, opinou ele, incrementou essa política ao ir além do viés econômico e comercial, e englobando o geopolítico e cultural.Investir na África dever ser 'política de Estado'Ambos os especialistas reconheceram o esforço do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em reconstruir os laços dentro dessa perspectiva Sul-Sul, após uma série de embaixadas fechadas no continente africano pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e mostrar protagonismo nesse cenário internacional.Alvarenga mencionou iniciativas recentes como cooperações para elaborar eleições, criar instituições públicas, instituições políticas e sociais, mesmo formar e capacitar forças de defesa de alguns desses países. No entanto, lamentou que a política externa brasileira em relação ao continente africano fique à mercê do governo de turno, em vez de ser uma política de Estado.Ele deu como exemplo a queda no comércio com a Nigéria nos últimos 20 anos devido à falta de "vontade política":"A gente tinha ali um comércio na casa de R$ 10 bilhões no início da década de 2010, e agora temos com a Nigéria na casa dos R$ 2 bilhões. É uma retração muito grande. E aí, acho que, independente de biologia, orientação política, é preciso ter pragmatismo, entender a África também como um espaço de oportunidades para o desenvolvimento brasileiro", comentou.Para tudo isso sair do papel, defendeu o professor, é vital que haja investimento de tempo, dinheiro e estudo:No caso da Nigéria, seu protagonismo regional econômico, político e de produção intelectual a torna porta de entrada para o Brasil rumo a outros mercados no continente. Liderança dentro da União Africana e das comunidade dos países da África Ocidental, vem liderando processos de integração, constituição da área de livre comércio, e programa de infraestrutura e desenvolvimento da África. Por outro lado, tem muito em comum com o Brasil:
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Análise: relações do Brasil com a África não podem ficar à mercê da vontade política de cada governo
17:30 19.09.2025 (atualizado: 22:02 19.09.2025) Especiais
Uma das nações mais populosas e ricas da África, a Nigéria é parceira estratégica do Brasil na região. Essa relevância ficou evidente nos acordos bilaterais firmados durante a visita oficial do presidente Bola Tinubu a seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, no mês passado.
Entre os destaques estão memorandos de transferência de tecnologia e
cooperação em ciência, tecnologia e inovação, sobretudo no agronegócio.
As possibilidades de trocas comerciais e vantagens recíprocas são inúmeras, mas a lógica desses acordos deve necessariamente se basear na solidariedade tão aclamada nos discursos que defendem o fortalecimento das relações Sul-Sul, disseram especialistas ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, desta sexta-feira (19).
A transferência de tecnologia e de cooperação Sul-Sul deve avaliar os impactos sociais nos países envolvidos, ponderou a doutora em antropologia social pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Ana Carolina Costa.
Segundo ela, o Brasil não pode reproduzir uma lógica de imperialismo dentro dessas cooperações, que chamou de "subimperialismo" — quando um país periférico é ao mesmo tempo explorado pelo sistema capitalista global e explora outros países também periféricos.
"De fato existe uma transferência de tecnologia, mas não é um partilhamento no processo de construção e desenvolvimento dessa tecnologia; reproduz a lógica de aplicar essa tecnologia brasileira no setor, principalmente, da agricultura, da aviação", avaliou ela. "Então tem um certo descompasso entre o que tem sido chamado, de fato, de transferência de tecnologia e o que tem acontecido na prática. […] o Brasil ganha muito mais do que os países africanos."
A pesquisadora deu como exemplo o projeto ProSavana, em Moçambique, que envolvia o Brasil e Japão, cujo objetivo era desenvolver a agricultura no norte do país:
"É um projeto que, aqui no Brasil, é considerado de ponta, pioneiro, de desenvolvimento agrícola. Mas as manifestações contrárias a esse projeto em Moçambique são imensas [...] Porque, quando a gente exporta tecnologias, muitas vezes, exporta também os problemas. O problema da questão da propriedade de terra, a gente exporta o problema da especulação imobiliária, os problemas ambientais", elencou Costa.
Para o professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Alexandre Alvarenga, a cooperação mais horizontal com países do continente africano pode ser o diferencial brasileiro na desigual disputa por projeção com potências internacionais:
"O Brasil não deve se projetar com esse pensamento de potência predadora, mas como um país que tem laços históricos, que pode desenvolver uma complementariedade econômica com o continente africano, ser uma alternativa para reduzir suas dependências econômicas, financeiras, estruturais, de forma geral, reduzir suas vulnerabilidades", argumentou ele. "Porém, o grande questionamento sobre esse tipo de cooperação é o quanto a gente consegue colocar isso em prática".
Nesse sentido, o exercício do Brasil dever ser o de resgatar o passado e também ressignificar essas relações para um futuro onde os dois continentes possam prosperar, defendeu Alvarenga.
O catedrático lembrou que esse tipo de aproximação entre o Brasil e países parceiros na África tem ocorrido gradualmente desde a década de 1960, com missões comerciais, aberturas de embaixadas, visitas presidenciais e maior articulação com países africanos dentro da ONU, perdão de dívidas, maior número de cooperações com instituições na área de saúde, defesa etc.
A primeira gestão de Lula, opinou ele, incrementou essa política ao ir além do viés econômico e comercial, e englobando o geopolítico e cultural.
Investir na África dever ser 'política de Estado'
Ambos os especialistas reconheceram o esforço do
governo de Luiz Inácio Lula da Silva em reconstruir os laços dentro dessa perspectiva Sul-Sul, após uma série de embaixadas fechadas no continente africano
pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e mostrar protagonismo nesse cenário internacional.
Alvarenga mencionou iniciativas recentes como cooperações para elaborar eleições, criar instituições públicas, instituições políticas e sociais, mesmo formar e
capacitar forças de defesa de alguns desses países. No entanto, lamentou que a
política externa brasileira em relação ao continente africano fique à
mercê do governo de turno, em vez de ser uma política de Estado.
Ele deu como exemplo a queda no comércio com a Nigéria nos últimos 20 anos devido à falta de "vontade política":
"A gente tinha ali um comércio na casa de R$ 10 bilhões no início da década de 2010, e agora temos com a Nigéria na casa dos R$ 2 bilhões. É uma retração muito grande. E aí, acho que, independente de biologia, orientação política, é preciso ter pragmatismo, entender a África também como um espaço de oportunidades para o desenvolvimento brasileiro", comentou.
Para tudo isso sair do papel, defendeu o professor, é vital que haja investimento de tempo, dinheiro e estudo:
"Vai ter que promover encontro de empresas e comitivas e explorar mercado. Então é um trabalho, realmente, não é algo que acontece de forma automática: 'Olha, assinamos aqui um acordo de livre comércio e agora os investimentos e os produtos vão fluir nos mercados'".
No caso da Nigéria, seu
protagonismo regional econômico, político e de produção intelectual a torna porta de entrada para o Brasil rumo a outros mercados no continente. Liderança dentro da União Africana e das
comunidade dos países da África Ocidental, vem liderando processos de integração, constituição da área de livre comércio, e programa de infraestrutura e desenvolvimento da África. Por outro lado, tem muito em comum com o Brasil:
"Ela tem muitos desafios sociais que esses projetos de cooperação podem colaborar, se a gente pensar hoje que um dos grandes desafios da Nigéria é a agricultura, a produção agrícola. Porque é um país extremamente rico em petróleo, que não refina. E essas zonas de extração de petróleo na Nigéria têm impactado extremamente as comunidades agrícolas", alertou Costa.
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