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Instabilidade política no Peru: como a fragilidade institucional afeta o país
Instabilidade política no Peru: como a fragilidade institucional afeta o país
Sputnik Brasil
O Peru vive um momento de incertezas políticas, com uma sequência impressionante de presidentes que ascendem e caem, muitas vezes em questão de meses. A... 21.10.2025, Sputnik Brasil
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Mas o que está por trás dessas quedas frequentes? Para entender melhor, o Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, recebeu Lucas Berti, pesquisador do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Grupo de Relações Internacionais e Sul Global (Grisul) para discutir a queda de mais um presidente no Peru, Dina Boluarte, e analisou as implicações dessa instabilidade e o papel fundamental do Congresso peruano nesse processo.Nos últimos dez anos, o Peru experimentou uma sequência impressionante de mudanças de liderança, com sete presidentes ocupando o cargo. Destes, apenas dois foram eleitos diretamente pelo povo, enquanto os demais ascenderam por mecanismos constitucionais.É o caso de Dina Boluarte, que assumiu após a queda de Pedro Castillo. Ela, que era vice-presidente, assumiu o Palácio do Governo em 2022, após a tentativa de autogolpe de Castillo, mas foi destituída recentemente, no último dia 10, com 122 votos a favor de sua remoção e nenhum voto contrário.Berti aponta que há uma fragilidade institucional no sistema presidencialista peruano, em grande parte devido ao artigo 113 da Constituição, que permite a destituição de presidentes por "incapacidade moral ou física".Esse mecanismo, combinado com o unicameralismo do Congresso peruano (composto por 130 parlamentares), facilita o processo de impeachment, tornando-o mais rápido e menos sujeito a um escrutínio amplo. No caso do Peru, basta a aprovação de 87 congressistas para destituir o presidente.A definição vaga dá ao Congresso amplos poderes para remover o chefe de Estado, que, por sua vez, se vê obrigado a constantemente agradar o Legislativo para se manter no cargo.Berti também traçou um paralelo com o impeachment de Dilma Rousseff no Brasil, destacando que, em sistemas presidencialistas, a dependência do apoio legislativo pode levar à fragilidade do Executivo, como se viu tanto no Brasil quanto no Peru.De acordo com o especialista, a instabilidade política no Peru não se limita às paredes do Congresso. A influência do fujimorismo, representado por Keiko Fujimori, também desempenha um papel crucial no cenário atual. A ascensão de Dina Boluarte ao poder envolveu uma série de concessões políticas que a afastaram de suas raízes progressistas, o que gerou críticas e, segundo alguns analistas, contribuiu para sua queda.A política peruana, marcada por coalizões muitas vezes heterogêneas e contraditórias, reflete uma polarização similar à que se observa no Brasil, com forças opostas se unindo temporariamente para derrotar um adversário comum.A chegada de José Jerí à presidência, após a destituição de Boluarte, é vista por Berti como uma continuidade do projeto político anterior, mas com um contexto de forte oposição popular e protestos em massa. Segundo o internacionalista, o futuro do novo mandatário à frente do país é incerto.Diego Pérez, professor universitário e antropólogo, nasceu no Peru, mas fez do Brasil seu segundo lar, onde estudou e se formou. Em entrevista ao Mundioka, ele abordou a fragilidade das instituições democráticas peruanas, com ênfase na sucessão de presidentes que não conseguem concluir seus mandatos."Já faz quase uma década que o Peru tem vivido uma instabilidade política impressionante", afirmou Pérez. Para ilustrar a gravidade do cenário, o último presidente democraticamente eleito a concluir o mandato foi Ollanta Humala (2011–2016).Segundo o analista, o artigo 113 "abriu uma caixa de Pandora". "Porque o que é incapacidade moral? Não é uma definição clara, o que dá margem para interpretações arbitrárias."Pesou ainda, para Boluarte, o fato de não ter competido nas eleições como cabeça de chapa. "Dina não foi eleita diretamente pelo povo, ela era vice de Castillo", explicou Pérez. "Ela não tinha destaque na política peruana antes disso. A eleição […] foi uma escolha entre dois extremos: Keiko Fujimori, representante da ditadura de seu pai [Alberto Fujimori]; e Pedro Castillo, um ex-professor aliado à esquerda."A então presidente, que começou seu governo com baixíssima popularidade, enfrentou protestos massivos que exigiam sua saída. "Ela chegou ao poder com 3% de aprovação", afirmou Pérez. "Mas o Congresso a manteve no cargo, pois, se ela fosse destituída, novas eleições teriam que ser convocadas, o que não interessava aos congressistas, que ficariam sem seus privilégios."A situação tornou-se insustentável à medida que as eleições nacionais de 2026 se aproximavam. A pressão popular, somada ao desgaste político, fez com que o Congresso rompesse com Boluarte. "Os partidos que a apoiavam no Congresso já começaram a se preparar para as eleições do ano que vem, e não era conveniente continuar associados a uma presidente com apenas 3% de apoio popular."
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Instabilidade política no Peru: como a fragilidade institucional afeta o país
18:30 21.10.2025 (atualizado: 14:26 22.10.2025) Redação
Equipe da Sputnik Brasil
Especiais
O Peru vive um momento de incertezas políticas, com uma sequência impressionante de presidentes que ascendem e caem, muitas vezes em questão de meses. A recente destituição de Dina Boluarte, após apenas dois anos e meio no cargo, é mais um capítulo dessa instabilidade, que revela as profundas fragilidades do sistema presidencialista do país.
Mas o que está por trás dessas quedas frequentes? Para entender melhor, o Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, recebeu Lucas Berti, pesquisador do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Grupo de Relações Internacionais e Sul Global (Grisul) para discutir a queda de mais um presidente no Peru, Dina Boluarte, e analisou as implicações dessa instabilidade e o papel fundamental do Congresso peruano nesse processo.
Nos últimos dez anos, o Peru experimentou uma sequência impressionante de mudanças de liderança, com sete presidentes ocupando o cargo. Destes, apenas dois foram eleitos diretamente pelo povo, enquanto os demais ascenderam por mecanismos constitucionais.
É o caso de Dina Boluarte, que assumiu após a queda de
Pedro Castillo. Ela, que era vice-presidente, assumiu o Palácio do Governo em 2022, após a tentativa de autogolpe de Castillo, mas
foi destituída recentemente, no último dia 10, com 122 votos a favor de sua remoção e
nenhum voto contrário.
Berti aponta que há uma fragilidade institucional no sistema presidencialista peruano, em grande parte devido ao artigo 113 da Constituição, que permite a destituição de presidentes por "incapacidade moral ou física".
Esse mecanismo, combinado com o unicameralismo do Congresso peruano (composto por 130 parlamentares), facilita o processo de impeachment, tornando-o mais rápido e menos sujeito a um escrutínio amplo. No caso do Peru, basta a aprovação de 87 congressistas para destituir o presidente.
A definição vaga dá ao Congresso amplos poderes para remover o chefe de Estado, que, por sua vez, se vê obrigado a constantemente agradar o Legislativo para se manter no cargo.
"Quando o Congresso tem esse poder grande nas mãos, o equilíbrio entre os Poderes fica abalado", explica.
Berti também traçou um paralelo com o impeachment de Dilma Rousseff no Brasil, destacando que, em sistemas presidencialistas, a dependência do apoio legislativo pode levar à fragilidade do Executivo, como se viu tanto no Brasil quanto no Peru.
De acordo com o especialista, a instabilidade política no Peru não se limita às paredes do Congresso.
A influência do fujimorismo, representado por Keiko Fujimori, também desempenha um papel crucial no cenário atual.
A ascensão de Dina Boluarte ao poder envolveu uma série de concessões políticas que a afastaram de suas raízes progressistas, o que gerou críticas e, segundo alguns analistas, contribuiu para sua queda.
A política peruana, marcada por coalizões muitas vezes heterogêneas e contraditórias, reflete uma polarização similar à que se observa no Brasil, com forças opostas se unindo temporariamente para derrotar um adversário comum.
A chegada de José Jerí à presidência, após a destituição de Boluarte, é vista por Berti como uma continuidade do projeto político anterior, mas com um contexto de forte oposição popular e protestos em massa. Segundo o internacionalista, o futuro do novo mandatário à frente do país é incerto.
"Eu acredito, possivelmente, que ele cai antes disso. E aí, […] se cai ele, quem assume? Não tem presidente, não tem vice-presidente…", alertou, apontando a instabilidade estrutural do sistema político peruano como um fator crucial para as constantes mudanças de liderança.
Diego Pérez, professor universitário e antropólogo, nasceu no Peru, mas fez do Brasil seu segundo lar, onde estudou e se formou. Em entrevista ao Mundioka, ele abordou a fragilidade das instituições democráticas peruanas, com ênfase na sucessão de presidentes que não conseguem concluir seus mandatos.
"Já faz quase uma década que o Peru tem vivido uma instabilidade política impressionante", afirmou Pérez. Para ilustrar a gravidade do cenário, o último presidente democraticamente eleito a concluir o mandato foi Ollanta Humala (2011–2016).
"Isso mostra que estamos lidando com uma democracia muito frágil."
Segundo o analista, o artigo 113 "abriu uma caixa de Pandora". "Porque o que é incapacidade moral? Não é uma definição clara, o que dá margem para interpretações arbitrárias."
Pesou ainda, para Boluarte, o fato de não ter competido nas eleições como cabeça de chapa. "Dina não foi eleita diretamente pelo povo, ela era vice de Castillo", explicou Pérez. "Ela não tinha destaque na política peruana antes disso. A eleição […] foi uma escolha entre dois extremos: Keiko Fujimori, representante da ditadura de seu pai [Alberto Fujimori]; e Pedro Castillo, um ex-professor aliado à esquerda."
"Foi como o caso de Temer com Dilma. Quando Dilma venceu, ela não ganhou com o apoio de Temer, mas ele estava na chapa como vice. E o que aconteceu depois foi uma articulação política que resultou em um golpe dentro do Estado."
A então presidente, que começou seu governo com baixíssima popularidade, enfrentou protestos massivos que exigiam sua saída.
"Ela chegou ao poder com 3% de aprovação", afirmou Pérez. "Mas o Congresso a manteve no cargo, pois, se ela fosse destituída, novas eleições teriam que ser convocadas, o que não interessava aos congressistas, que ficariam sem
seus privilégios."
A situação tornou-se insustentável à medida que as eleições nacionais de 2026 se aproximavam. A pressão popular, somada ao desgaste político, fez com que o Congresso rompesse com Boluarte. "Os partidos que a apoiavam no Congresso já começaram a se preparar para as eleições do ano que vem, e não era conveniente continuar associados a uma presidente com apenas 3% de apoio popular."
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