Na mesma quarta-feira em que se reuniu com a ministra, Segóvia comunicou o aumento de nove para 17 o número de delegados exclusivamente dedicados às investigações que tramitam no STF. O diretor da PF também aumentou o número de peritos criminais nestes processos de modo a acelerar a confecção de laudos que contribuam para o esclarecimento dos inquéritos.
Contudo, nem todos alimentam o mesmo otimismo de Segóvia. Em entrevista à Sputnik Brasil, o delegado federal Edvandir Paiva, novo presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), a meta de concluir as investigações da Lava Jato no STF até o final do ano é, no mínimo, discutível.
"É muito difícil dizer se é factível ou não esta meta porque nós não conhecemos as investigações. O que posso dizer é: se a PF aloca recursos materiais e humanos como foi anunciado, há a possibilidade de encaminhar (ou mesmo terminar) com mais rapidez as investigações", avaliou Paiva, fazendo ainda outras ressalvas.
"Agora, uma investigação depende de muitos fatores: se em determinados níveis das investigações aparecerem mais dados que demandarem mais trabalho, mais análise, mais períodos para busca e coleta de provas, isso vai consumir mais tempo. Então, é muito difícil definir o tempo em que uma investigação termine", destacou.
Esforços elogiados
No entanto, Edvandir Paiva aplaude o reforço das equipes empenhadas nestas tarefas. Segundo o presidente da ADPF, a entidade sempre defendeu o incremento de pessoal e de meios materiais para otimizar o trabalho dos agentes e delegados.
"É muito salutar que haja priorização destas investigações. A nossa associação sempre defendeu que as equipes da Lava Jato de Curitiba e do Rio de Janeiro sejam reforçadas, assim como sempre defendeu que as equipes responsáveis por outras importantes operações sejam igualmente reforçadas. Investigações que disponham de recursos humanos e materiais irão avançar e disso, nós não temos dúvida nenhuma", disse.
Sobre o desfecho e conclusão da Lava Jato, Paiva afirmou que é preciso ter toda a cautela. Na opinião do delegado, ninguém tem o poder de dizer hoje quando de fato a Lava Jato estará concluída.
"O diretor-geral da PF disse que os inquéritos da Lava Jato que tramitam no STF deverão estar concluídos até o final deste ano de 2018. Ora, isso não é algo que dependa deste ou daquele colega. O que determina o fim de uma investigação é o esgotamento da sua linha investigativa. E isso não ocorre pela vontade deste ou daquele delegado. Ninguém pode dizer quando a Lava Jato estará concluída. Somente os fatos irão dizer o momento em que as investigações terão chegado ao fim", explicou.
Fatores políticos
Paiva também pontuou o fato de existirem obstáculos para o prosseguimento das investigações pela PF, já que elas envolvem políticos.
"A dificuldade de lidar com políticos é o fato de que, como eles detêm o poder, têm também a possibilidade de fazer com que recursos deixem de estar disponíveis para a Polícia Federal poder prosseguir com as suas investigações", afirmou.
Estão hoje no Supremo todas as investigações conduzidas pela PF envolvendo parlamentares, ministros de Estado e o próprio Presidente da República, Michel Temer (MDB). Pela natureza dos cargos que exercem, todos têm foro privilegiado e, portanto, os procedimentos investigatórios contra estas pessoas precisam ser autorizados pelo STF conforme determina a Constituição Federal.
Segundo o ministro Edson Fachin, que assumiu a relatoria da Lava Jato na Corte, sucedendo o então relator ministro Teori Zavascki (morto em acidente aéreo em 19 de janeiro de 2017), tramitam no STF 140 inquéritos resultantes de investigações da Lava Jato. Destes, 73 inquéritos foram redistribuídos para outros ministros do STF por não estarem diretamente relacionados a desvios na Petrobras, alvo central desta operação.