Tanques, dinheiro e canos fumegantes: por que Londres teme Moscou?

Sistema fraco de defesa antiaérea, tanques obsoletos, falta de mísseis de cruzeiro e vulnerabilidade diante de ciberataques; em caso de guerra, Londres não seria capaz de encarar a Rússia. Foi assim que o chefe do Estado-Maior britânico, general Nick Carter, estimou o potencial de seu país.
Sputnik

Diferença em potenciais

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Não é a primeira vez que o general Carter incita medo: Moscou tem mísseis de médio alcance, russos deslocam rapidamente suas tropas, Kremlin possui enorme quantidade de tanques e artilharia, mísseis de cruzeiro Kalibr acertam alvos dolorosamente, ninguém se compara a Moscou no que diz respeito à guerra radioeletônica, e assim por diante. 

Por sua vez, de acordo com estimativas do Estado-Maior britânico, o potencial de Londres é muito baixo. Reino Unido não compra novo material blindado há muito tempo. Sua defesa antiaérea não é capaz de repelir ataques do céu, sem contar na frota que presencia falta severa de navios, "deixando país extremamente vulnerável diante de possível ataque da Rússia".

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Sem dúvidas, Nick Carter tem razão, especialmente ao imaginar confronto somente entre os dois países, ou seja, sem envolver OTAN. As Forças Armadas da Rússia superam o exército britânico mais de seis vezes, possuindo em média um milhão de militares contra apenas 150 mil soldados britânicos. Em termos de tanques, Londres está bem longe já que Moscou possui 2.700 T-72, T-80 e T-90 (junto com 17 veículos blindados em armazéns) contra 227 tanques britânicos Challenger II. Quanto à aviação, a situação é similar: o exército russo conta com 3,5 mil aviões e helicópteros, por sua vez, o Reino Unido tem apenas 900 aeronaves. Em relação a outros tipos de armamento, desde veículos de combate de infantaria até artilharia reativa, os números dos dois países são similares.

No que se refere ao potencial nuclear, é melhor nem comparar, uma vez que a Rússia possui sete mil ogivas nucleares, enquanto as Forças Armadas britânicas contam com duzentas. 

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Contudo, não é razoável considerar militares britânicos como palitos. Primeiro, o país possui uma tradição militar de vários séculos e uma experiência rica na hora de guerrear. Do ponto de vista geográfico, Londres não é o melhor lugar para ser invadido. Para invadir, militares russos precisariam capturar a França e todos os países no caminho.

Terceiro, o orçamento militar de Moscou e de Londres é mais ou menos igual, correspondendo aproximadamente a US$ 50 bilhões (R$ 161 bilhões). Os dois países possuem uma potente base industrial capaz de acelerar produção militar, caso seja necessário. 

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Finalmente, por atrás do Reino Unido está toda a potência da Aliança Atlântica, que pelo menos promete defender seus integrantes. Então, por que no discurso do militar de alto escalão britânico é percebido desespero?

"Em virtude de circunstâncias históricas, o Reino Unido nunca possuiu tropas terrestres poderosas", explicou à Sputnik especialista em assuntos militares, Ivan Konovalov.

"Os britânicos sempre tentaram controlar as principais vias marítimas e apostaram na frota naval. Contudo, quando seu império colapsou, o Reino Unido passou a se entregar aos EUA. Desde os tempos da Guerra Fria, a segurança dos britânicos é assegurada pelos norte-americanos, que dominam a OTAN. Contudo, hoje em dia, nenhum integrante da Aliança Atlântica acredita nas promessas de Donald Trump sobre prontidão de Washington em protegê-los, caso seja preciso. É por isso que o general Nick Carter está tão preocupado", ressaltou o especialista.

Inimigo vantajoso

De acordo com o analista russo, nas últimas décadas, Londres vem gradualmente diminuindo o número de suas Forças Armadas: por exemplo, no momento, das tropas aerotransportadas britânicas restou apenas uma brigada. A frota vem enfrentando problemas graves também. Hoje em dia, a Marinha Real não possui destróieres com mísseis de cruzeiro. Já que todos os seis navios do projeto Daring permanecem em Portsmouth devido a falhas, falta de funcionários e de manutenção. 

Quanto ao único porta-aviões em estado operacional — o Queen Elizabeth, entregue à frota em 7 de dezembro de 2017, nele surgiram vazamentos depois de duas semanas de exploração. 

O porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth em Portsmouth, Reino Unido

"Há informações de que Londres tem um monte de problemas em todo o conjunto militar, desde aviões até material bélico blindado. A situação vem se agravando pela falta de recursos para manter as Forças Armadas do país. Os generais temem diminuir orçamento militar. Este medo oculto é percebido no discurso do general Carter. Em geral, militares ocidentais exageram na hora de ameaçar […] Os britânicos são mestres em gerar pânico", assinalou Ivan Konovalov.

De acordo com o especialista, "histórias assustadoras" deste tipo trazem vantagens não somente aos militares, mas à indústria do país também que é dominada pela empresa monopolista BAE Systems, que produz praticamente todos os tipos de armamentos, tanques e até aviões. É evidente que a chefia da empresa esteja interessada em receber novos pedidos e em influenciar o parlamento através de militares para aumento de rendimento. 

"No fim das contas, historicamente, a Rússia e o Reino Unido sempre estiveram em confronto, inclusive Grande Jogo [rivalidade estratégica entre o Império Britânico e o Império Russo pela supremacia na Ásia Central], intrigas políticas e acusação de que Rússia esteja ligada a conflitos desnecessários. As elites políticas percebem muito bem que Moscou não vai desencadear guerra contra Londres, já que nossas Forças Armadas são destinadas principalmente à defesa do nosso território. Contudo, a Rússia, posicionada como poderoso rival potencial, seria um espantalho bem vantajoso para objetivos de Londres. Os britânicos sabem extrair lucros militares e políticos de qualquer coisa", concluiu Ivan Konovalov.

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