Apesar do desconto alcançado, o total do negócio pode atingir 4,5 bilhões de dólares (R$ 14 bilhões), uma verba recorde para o Leste Europeu. Entretanto, é evidente que os membros da Aliança Atlântica não serão capazes de se livrar tão cedo do legado militar da URSS. A Sputnik apresenta a lista de armas soviéticas no serviço dos países da OTAN.
Armas originais ou versão de base soviética?
O Pacto de Varsóvia (aliança militar entre países do Leste Europeu formada em 1955 e que deixou de existir em 1991) se dissolveu há 27 anos, mas o parque de tanques da República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária e ex-repúblicas da Iugoslávia até hoje é composto por tanques de combate T-55 e T-72 ou versões locais com base nos veículos soviéticos.
Os tanques da OTAN estão apenas no serviço da Polônia – na primeira década de 2000, Varsóvia recebeu da Alemanha mais de 230 "leopardos" usados. Os poloneses afirmam ter um tanque de produção própria, PT-91 Twardy, mas, de acordo com especialistas, estas máquinas podem ser consideradas "polonesas" apenas condicionalmente.
"A Polônia diz que produz tanques próprios, mas todos entendem que o Twardy é um T-72 soviético que eles [poloneses] produziam sob licença. O T-72 se comportou muito bem em vários conflitos armados e os poloneses não querem abdicar dele", explicou à Sputnik o chefe do Centro de Conjuntura Estratégica, Ivan Konovalov.
Modernização bem pensada
A defesa antiaérea está quase completamente equipada com sistemas russos. Em primeiro lugar, trata-se de S-125 e S-200. Os sistemas mais "recentes" estão na Bulgária e na Eslováquia, que conseguiram, graças ao Pacto de Varsóvia, receber da URSS uma divisão de S-300 cada uma. Apenas a Romênia tem hoje em dia sistemas importantes de mísseis antiaéreos dos EUA, MIM-23 Hawk. As capacidades de combate dos sistemas antiaéreos soviéticos suscitam dúvidas aos especialistas militares.
"No que diz respeito aos sistemas de defesa antiaérea, de fato no Leste Europeu a maioria destes armamentos está armazenada", destacou o analista militar Viktor Murakhovsky, acrescentando que atualmente apenas a Grécia tem uma quantidade significativa de sistemas S-300 e Buk.
Os sistemas antiaéreos de tropas terrestres no flanco oriental da OTAN estão em melhor estado. Trata-se dos sistemas 9K33 Osa, 2K12 Kub, ZSU-23-4 Shilka. E parece que a Europa do Leste ainda não está pronta para se despedir destes armamentos: em 2010 a Polônia começou a modernização dos Shilka, enquanto o sistema Osa está sendo adaptado para poder usar mísseis guiados antiaéreos alemães IRIS-T. A República Tcheca modernizou parte dos sistemas Kub para usarem mísseis antiaéreos italianos Aspide 2000.
O ramo da aviação também está em declínio. Os "veteranos soviéticos" MiG-29, Su-22 e MiG-21 quase esgotaram seu tempo de vida útil. Pouco a pouco estão sendo substituídos por artigos "em segunda mão" da OTAN. Os mais populares são os aviões F-16, eles estão no serviço da Polônia e Romênia, a Bulgária esteve também discutindo a compra destes aviões de combate. O único país que conseguiu se livrar completamente dos aviões soviéticos é a Hungria, que recebeu em leasing 12 Saab JAS 39 Gripen suecos.
Negócio de armamentos soviéticos bem ajustado
"A necessidade obriga, eis por que a Europa do Leste continua usando armas soviéticas", disse à Sputnik o vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar, Aleksandr Kramchikhin.
Na OTAN, continuou, este problema se resolvia assim: "Se têm dinheiro, comprem armas da OTAN, se não têm, fiquem com as soviéticas." Mas o processo de rearmamento é inevitável, dado ao fato de as armas soviéticas estarem esgotando seu tempo de vida, no entanto, tudo depende do tempo e meios para o processo de rearmamento.
A Europa do Leste faz todo o possível para manter a produção de equipamento soviético, considera Ivan Konovalov. Mas este fato não está ligado apenas à falta de recursos para o rearmamento. O analista frisou que, se aproveitado da situação instável nas zonas de conflito, inclusive na Síria, a Bulgária vendeu armamentos com bastante lucro.
"A demanda por armas soviéticas é alta, porque elas continuam mostrando bons resultados", sublinhou Konovalov.
Os analistas entrevistados ficaram perplexos aos serem perguntados sobre os prazos em que o Leste Europeu pode se livrar das armas soviéticas. Mesmo se os ex-aliados da URSS obtenham dinheiro, o processo de rearmamento pode durar anos, já que entre a assinatura de um contrato e a primeira entrega habitualmente passam cinco ou seis anos.