Em entrevista concedida neste sábado à GloboNews, a especialista chamou de "medida extrema negociada" a decisão de Temer em repassar a Segurança Pública fluminense às Forças Armadas até 31 de dezembro deste ano. Para ela, a medida é mais teatral do que eficiente.
"Pelo que eu saiba, e que o mundo saiba, em termos de pesquisa, do que funciona e do que não funciona, é a atividade discreta – e não barulhenta, espetacular –, de investigação e inteligência que consegue desbaratar economias criminosas, e não o efeito 'espanta-barata', da ostensividade. Aqui a gente faz polícia de espetáculo. Polícia ostentatória, cara, polícia ostentação", afirmou.
Além de ter uma expectativa nada otimista, a professora da UFF declarou que a medida, da forma com que foi colocada pelo governo federal, "é pior do que trocar seis por meia dúzia", declarando que há uma frequente falta de apresentação de resultados e transparência.
Ela também criticou os políticos, que seriam coniventes com o próprio crime organizado que dizem querer combater. "É através do dinheiro do crime que se faz caixa 2 de campanha e que crime é esse: mercadorias ilegais, que vai da banda larga às drogas".
Jacqueline Muniz ainda relembrou que, há pouco mais de 15 dias, um evento na Federação da Industrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) apontou caminhos de um suposto plano de segurança para a polícia do Estado, e que o anúncio da intervenção federal só mostra o descompasso entre as autoridades.
"Transformaram a Polícia Militar em uma mercadoria. Venderam, alugaram, precarizaram o policial militar para a iniciativa privada – [projetos] Lapa Presente, Lagoa Presente, que até então todo mundo acha lindo. E por que achava lindo? Porque ninguém presta contas. É igual ao decreto do Temer: pode tudo, mas eu não dou satisfação a ninguém. Mas e aí? Vai atuar como polícia? 'Eu não, eu tenho medinha [sic]. Eu só quero mandar. O sucesso é meu, o fracasso é de quem está lá na ponta'", continuou.
A analista seguiu com a sua avaliação e, em tom de desabafo, afirmou que muita gente irá ganhar com a medida do governo federal, e não será a população do Rio de Janeiro.
"O crime organizado agradece, o PCC [Primeiro Comando da Capital, facção criminosa radicada em São Paulo] agradece, os falsos profetas da segurança pública agradecem, e os mercadores da profissão. Estamos diante de uma temporada de abertura das chantagens corporativas e das negociatas da segurança. Que Deus nos proteja, porque ele está, ainda, no Rio de Janeiro", concluiu a professora.