"Essa intervenção não vai produzir ganho real nenhum", diz Souza. O tenente-coronel acredita que algum "ganho momentâneo" poderá ser alcançado, mas ele não será sustentável."Se você quer levar paz para uma comunidade, você tem que levar o Estado por completo e com a preocupação de proporcionar o bem comum. Colocar a polícia e achar que isso vai resolver é mentira."
Souza diz que as forças de segurança trabalham com a lógica de que a população é inimiga das autoridades, principalmente os "pretos e pobres".
"Ano passado, segundo relatório da Human Rights Watch, a polícia do Rio matou mais de mil pessoas. Não era pra ter produzido resultados se fosse efetiva essa medida? O que aconteceu, matou-se mais de mil pessoas e houve a intervenção. Se modelo do confronto e eliminação fosse eficaz, não haveria essa onda de assalto e de insegurança", afirma Souza, que também é mestre em direitos humanos pela USP.
Nesta segunda-feira (19), o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que serão necessários mandados de busca e apreensão coletivos por causa da "realidade urbanística" carioca.
Souza diz que a medida é uma maneira de "rasgar" a Constituição. Para ele, o Poder Judiciário é "conivente" com a violência ao validar mandatos coletivos, ignorar a prática de tortura e de violência policial.
"Tratar a população como inimiga vai fortalecer o crime organizado, porque enquanto o Estado se ausenta e quando comparece agride, o outro lado vai aparecer como o 'bonzinho' e vai 'acolher' essas pessoas, ganhando mais forças e adeptos", diz o o tenente-coronel reformado.