A campanha, intitulada "Deixa Ela Trabalhar", foi motivada principalmente pelos recorrentes casos de desrespeito a profissionais de canais de TV e rádio durante a cobertura de partidas de futebol. Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, Bruna Dealtry, do Esporte Interativo (EI), Kelly Costa, do Sport TV, e muitas outras, de diversas mídias, sentiram na pele recentemente o peso de trabalhar em meio a tantos homens de pensamento retrógrado e atitudes condenáveis. Mas, se depender delas, essas práticas estão com os dias contados.
Uma das participantes do movimento, Aline Nastari, também do Esporte Interativo, conversou com a Sputnik Brasil sobre a importância de discutir e expor esses casos de falta de respeito e abuso. Abuso do qual ela mesma já foi vítima, quando um torcedor tentou beijá-la à força durante uma transmissão ao vivo.
Segundo Aline, a campanha, que começou a partir de um grupo no WhatsApp, tem como lema o "basta", pretendendo deixar claro que o preconceito, o tratamento diferente dado às mulheres no jornalismo esportivo não será mais tolerado.
"O que a gente viu, no geral, é que todo mundo se oprime muito, todas nós passamos por situações como essas e as guardamos para si, internalizando", explicou, dizendo já ter passado por vários casos de desrespeito. "A gente tenta passar por cima e continuar seguindo, e quem sofre no final das contas somos todas nós, e sem expor isso".
"Sai daqui, puta", gritou um torcedor do Inter pra mim. Pedi que repetisse enquanto eu filmava. Me agrediu. Nunca achei que fosse passar por isso TRABALHANDO 😔 pic.twitter.com/yn6W9scfp4
— Renata de Medeiros (@rmedeirosrenata) 11 de março de 2018
Nastari destaca que a aceitação das mulheres como profissionais do jornalismo esportivo tem evoluído de forma seletiva, com muitos obstáculos surpreendentes e desagradáveis. Para ela, a melhor forma de avançar nessa questão ainda é através da conscientização.
"A gente entende que é uma coisa muito enraizada na nossa sociedade, a gente vê que, de fato, isso é uma coisa difícil. É muito cultural."
Boa parte do preconceito sofrido pelas jornalistas e repórteres, como relata a funcionária do EI, ocorre dentro das próprias redações, por parte de colegas do sexo oposto.
"Eu me lembro muito bem que quando eu saí do ar, eu comecei a chorar, porque era uma situação de impotência, eu não sabia o que fazer, fiquei muito mal", conta ela, relembrando um caso de assédio sofrido. "E muitos colegas meus me disseram: 'por isso que mulher não pode fazer esse tipo de pauta, por isso que mulher não pode estar na rua'. Isso me machucou. Poxa, eu que estou errada?", questiona a repórter. "Por isso que eu digo que a conscientização é importante também para os nossos colegas de profissão".