Será que 'peste negra' foi trazida ao Iraque e Síria por jihadistas mesmo?

A epidemia da misteriosa doença "de jihadistas", que sacudiu o Iraque e a Síria após a chegada do Daesh, organização terrorista proibida na Rússia e em outros países, foi trazida para os respectivos territórios do Irã, afirmam os médicos em uma publicação recente.
Sputnik

Os primeiros relatos sobre a praga começaram a ser divulgados pela mídia ainda em abril de 2015. De acordo com testemunhas, a doença atingiu precisamente as áreas ocupadas pelos terroristas e faziam as pessoas infetadas literalmente apodrecerem enquanto permaneciam vivas, sendo que o processo começava pelo rosto.

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No total, os médicos conseguiram recolher mais de 30 amostras de tecidos das pessoas contaminadas, retirar os parasitas e compará-los com os genomas de leishmaniose das outras regiões. A análise revelou que a doença era provocada por protozoários do tipo Leishmania major, inesperadamente vindas do Irã, vizinho iraquiano do Leste e um dos maiores adversários do Daesh na área.

Em uma entrevista à Sputnik Persa, o médico e cirurgião iraniano, Nasser Dehghani, que trabalhou nos centros de maior contaminação pela doença, falou sobre as causas da infeção misteriosa.

"Leishmaniose faz parte do grupo das chamadas doenças esquecidas, e não de alguma nova estirpe com qual a humanidade se deparou somente agora. A área de alastramento desta doença é muito vasta: China, Síria, Arábia Saudita, Iraque, Irã, Palestina, Índia, Paquistão, Afeganistão, Cáucaso, sul da Rússia, regiões no leste da Europa e do Mediterrâneo, África Oriental (Sudão) e América do Sul. Esta doença atinge as camadas mais pobres do planeta e é relacionada com alimentação insuficiente, sistema imunológico fraco e fatores ecológicos", explicou o especialista.

Para mais, ele precisou que durante as ações militares o que acontece é a mistura de todos esses fatores nocivos que podem provocar a criação de um novo foco de epidemia.

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A leishmaniose existe em três formas mais difundidas. A mais grave e perigosa é amplamente conhecida como "febre negra" e leva à morte em 95% dos casos sem tratamento adequado. Vale assinalar que esta forma está mais difundida pelo leste da África e pelo Brasil.

Outra forma, a mais frequentemente detectada, é a leishmaniose cutânea, além da leishmaniose cutânea-mucosa que também afeta os tecidos do nariz e garganta.

"Os sintomas da leishmaniose cutânea são úlceras na pele, dificuldade respiratória, congestão nasal, fluxo nasal abundante (até hemorragia), disfagia, úlceras na boca, gengivas e lábios", disse Dehghani. Já nas formas mais graves da doença, os sintomas incluem febre, dores, perda de peso e outros problemas.

Enquanto isso, o médico desvendou o mito mais famoso ligado à doença — de que existiria alguma ligação direta entre as atividades dos jihadistas e o alastramento da infeção.

"Claro que não há. Vale assinalar que esta doença não tem nenhuma ligação direta com o surgimento do Daesh. Mais provavelmente, ela tem a ver com o fator resultante das atividades militares. A guerra destrói o ecossistema natural, esgota as reservas de alimentos, faz desmoronar a economia e destroi as condições de vida das pessoas. É bem natural que nestas condições esta doença, que tem um caráter epidêmico, alastre", resumiu.

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