O ministro do Supremo Tribubal Federal (STF), Gilmar Mendes, declarou nesta terça-feira (3) que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode "manchar a imagem do país no curto prazo".
A declaração acontece na véspera da retomada do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula, que, além de ser definitivo para o futuro do ex-presidente, será de crucial impacto no processo das eleições presidenciais em 2018.
A professora de Direito da UFRJ, Carol Proner, que também integra a Frente Brasil de Juristas pela Democracia, disse à Sputnik Brasil que a percepção internacional da política brasileira no contexto do julgamento do ex-presidente é ruim, mas destacou que essa imagem recai mais sobre a desestabilização institucional — sobretudo do Poder Judiciário — do que sobre Lula.
"É menos pela condenação em si e mais pela percepção, que é também internacional, de que essa condenação não está segura. Ela não tem um suporte probatório suficiente para gerar um convencimento a respeito da responsabilidade pela prática de uma conduta indevida do ex-presidente", argumentou.
Segundo Carol Proner, cresce a "percepção de que a condenação de primeiro grau e segundo grau se baseia muito mais numa perseguição política, numa seletividade das provas, uma seletividade política".
Ao comentar o grau de politização presente no julgamento de Lula, a especialista relacionou o processo contra o petista com a campanha que desencadeou no impeachment de Dilma Rousseff, destacando a falta de punição a outras figuras políticas com ilegalidades mais explícitas.
"Estamos falando de um julgamento específico, de um ex-presidente que é pré-candidato à presidência. Obviamente que a posição dele nesse processo tem muito a ver com a coincidência do impeachment no Brasil […] Quando que começam a surgir e pipocar processos contra o ex-presidente Lula? Na constância do início do processo político de impeachment, que aconteceu de forma questionável, contestada, e que hoje nós vemos os resultados, tendo em vista as compras de votos e problemas no Legislativo que fizeram a queda da presidente", observa.
"Então essa coincidência política, e também o fato de que outros políticos com comprovação muito maior de cometimento de mal-feitos não foram punidos com a mesma garra, com a mesma convicção, digamos assim, demonstra uma fragilidade no processo de combate à corrupção e uma perseguição inequívoca com um dos candidatos à presidência da República em 2018", completa Carol Proner.
Lula já foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por supostos delitos de corrupção. Se na próxima quarta-feira (4) a Suprema Corte rejeitar o habeas corpus, a Justiça poderá decretar sua prisão imediatamente.
Por outro lado, se o recurso for aceito, Lula poderá permanecer em liberdade até que todos os recursos sejam resolvidos nas instâncias superiores: o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o próprio STF.