Opinião: ‘mudança de comando no Paraguai é mais do mesmo’

O Paraguai terá novo presidente a partir de agosto, quando tomará posse o empresário Mario Abdo Benitez, eleito no domingo, 22 de abril, para suceder o também empresário Horacio Cartes, eleito em 2013. O especialista em Relações Internacionais, Pedro Costa Junior, falou à Sputnik Brasil sobre o significado desta troca de poder no Paraguai.
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A vitória de Mario Abdo sobre Efraín Alegre foi anunciada pelo presidente do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, Jaime Bestard, quando a apuração havia totalizado os votos de 98% das seções eleitorais e indicado que Abdo reunia 46,46% dos votos contra 42,72% de Alegre. 

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O professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco em São Paulo e Faculdade de Campinas, Facamp, Pedro Costa Junior, disse à Sputnik Brasil que a mudança de comando no poder pouco altera o cenário político do Paraguai que, desde 1947, é governado pelo Partido Colorado, à exceção do período em que Fernando Lugo presidiu o país entre 15 de agosto de 2008 e 22 de junho de 2012, na condição de líder do movimento “Alianza Patriótica para el Cambio”, Aliança Patriótica para a Mudança. 

“Esta mudança de poder no Paraguai, esta transição de Horacio Cartes para Mario Abdo Benítez me parece mais do mesmo. Significa a manutenção do velho, das políticas que vinham sendo adotadas por Horacio Cartes no governo anterior ao de Mario Abdo Benítez e também da hegemonia que vem sendo mantida pelas políticas de centro-direita do Partido Colorado que se mantem no poder há décadas”, observou. 

Durante a campanha eleitoral, a oposição explorou muito o fato de o pai de Mario Abdo ter sido um dos principais assessores do ex-ditador Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai com mão de ferro entre 1954 e 1989.  O professor Pedro Costa Júnior também analisou a possibilidade de Abdo sofrer possíveis influências do pai devido às suas ligações com Alfredo Stroessner.

Segundo ele, "embora o contexto político hoje do Paraguai seja diferente, não se pode desprezar a possibilidade de que os ideais do pai de Mario Abdo, ex-braço direito de Alfredo Stroessner, possam ter causado alguma influenciam em seu pensamento político". 

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"Mas eu acredito que os compromissos democráticos do presidente eleito, reafirmados após a proclamação de sua vitória, serão respeitados em que pese o ambiente familiar que viu prosperar ao longo de sua infância e juventude, tendo um pai muito próximo do ex-ditador paraguaio”, destacou o especialista. 

Justamente por perceber estas dúvidas no eleitorado de seu país, Mario Abdo fez questão de dizer, em seu primeiro pronunciamento após ter a vitória anunciada, que as “divisões estéreis” no Paraguai estavam acabadas a partir daquele momento.

Para Pedro Costa Júnior, há um claro sinal de mudanças políticas se espalhando pela América Latina. Em sua opinião, boa parte deste fenômeno se deve à conjuntura econômica internacional.

“Essa eleição no Paraguai reflete um fenômeno que vem-se intensificando pelos países da América Latina, eleições muito acirradas com candidatos vitoriosos por diferenças mínimas de votos, o que mostra uma polarização muito forte entre os chamados partidos de esquerda e partidos de direita na região", diz. 

O especialista ainda destaca que, seja em governos de esquerda ou de direita, "se as commodities vão bem no cenário internacional, os rumos políticos dos governantes se mantêm; se vão mal, os governos tendem a ser substituídos por correntes contrárias ao pensamento dos que estão no poder”.    

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