Pelas estatísticas mais recentes, a língua portuguesa é a quinta mais usada para se comunicar na Internet, o que de fato não corresponde à posição do português em termos de número de falantes no mundo, observa a professora.
Quanto ao possível aumento ulterior da presença do português na Internet, Inês Duarte frisa que isso depende muito das condições dos países africanos e do Brasil, da capacidade dos demais países de língua oficial portuguesa de assegurarem uma Internet suficientemente rápida e econômica.
Entretanto, sublinha a nossa interlocutora, é importante não apenas o volume das informações em certa língua, mas também a sua confiabilidade e importância prática, sendo a Internet uma enciclopédia global onde "praticamente se encontra informação sobre tudo".
"Hoje em dia, é uma condição para muitas coisas. É importante cientificamente, do ponto de vista econômico, para as relações comerciais, para entretenimento", realça.
Falando dos desafios que se colocam à língua portuguesa, a professora Inês Duarte opina que são os mesmos que enfrentam quaisquer "línguas de cultura".
Tal termo se usa no seu sentido técnico, ou seja, quando falamos de uma língua que tem literatura, instrumentos de normalização como gramática, pontuação, ortografia e assim por diante. Para tais "línguas de cultura", acredita a especialista, o problema é de fato comum — a predominância do inglês em todas as áreas.
"[O que é] certo é que pelo menos por enquanto, […] a grande língua de ciência e tecnologia é a língua inglesa. Todas as outras línguas, e nós não estamos sozinhos, mesmo a espanhola, o francês… São línguas que têm de saber preservar a sua identidade, de continuar a ser uma língua de cultura, de ciência e tecnologia", manifesta.
Deste modo, a principal tarefa para evitar o processo da predominância linguística inglesa consiste, segundo a professora, na produção de conhecimentos e escrita literária em português, "seja qual for a variedade nacional" que estamos considerando.
Discordâncias internas
Entretanto, assegura a especialista, não são as contingências externas que ameaçam a língua portuguesa. Na verdade, na opinião dela, se trata de desentendimentos que existem no próprio mundo lusófono.
"O que nos ameaça é que, na realidade, nós não temos terminologias estáveis, negociadas entre os vários países de língua portuguesa, se cada um traduz à sua maneira os termos científicos, se não há um cuidado na tradução das bulas dos medicamentos…", explica a professora Inês Duarte.
É isso que talvez impeça inclusive o reconhecimento do português como língua de trabalho nas Nações Unidas, sugere. Ao mesmo tempo, caso o Brasil realmente venha a se tornar membro permanente do Conselho de Segurança, como aspira por muito tempo, isso teria um imenso significado.
Em resumo, a interlocutora ressalta que qualquer patrimônio linguístico deve ser não só preservado, como estudado, e nessa questão um dos maiores problemas é o pouco investimento na investigação sobre a língua portuguesa, algo que cabe aos governos dos países lusófonos.