"Cortaram na carne. Um capitão está para chegar lá. É o momento. Foi o memorando de um agente, que a imprensa não divulgou. É um historiador que diz que leu isso e não mostrou", afirmou Bolsonaro, em entrevista ao quadro Café com Política, da Rádio Super Notícia, de Belo Horizonte.
Além de estranhar o momento em que o documento veio a público, Bolsonaro comparou o assassinato e tortura de opositores no Brasil na década de 1970 com uma correção física aplicada contra filhos desobedientes.
"Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e, depois, se arrependeu? O que pode ter acontecido com este agente da CIA? Quantas vezes você falou num canto ali que tem que 'matar mesmo', 'tem que bater', 'tem que dar canelada'. Ele deve ter ouvido uma conversa como esta, fez um relatório e mandou", avaliou.
Por fim, o parlamentar ainda deixou no ar mais uma dúvida a respeito do conteúdo do relatório, escrito pelo então agente da CIA William Colby, e que menciona uma conversa envolvendo o então ditador Geisel e o seu sucesso, João Baptista Figueiredo, que concordavam em manter a repressão regada a tortura e assassinatos de opositores.
"Agora, cadê os 104 mortos? […] O momento era outro. Ou a gente botava para quebrar, ou o Brasil estava perdido […]. Se tivéssemos agido com humanismo ao tratar esse foco de guerrilha, teríamos no coração do Brasil uma Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). E graças aos militares daquela época, não temos", exaltou, referindo-se à Guerrilha do Araguaia.
Capitão da reserva do Exército, Bolsonaro usou o seu voto durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, para elogiar o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto um ano antes e tido como um dos mais notórios torturadores da ditadura militar. Mais recentemente, o parlamentar foi elogiado pelo hoje general da reserva Hamilton Mourão, este um defensor de um golpe militar no país.
Para especialistas, o documento trazido a público pelo professor Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), comprova que as torturas e assassinatos eram de pleno conhecimento dos generais que exerceram o comando do Brasil na ditadura, e o relatório enviado ao então secretário de Estados dos EUA, Henry Kissinger, confirma o apoio dos EUA.
Geisel foi o responsável por defender a política de reabertura gradual, contrariando setores das Forças Armadas. Contudo, ao contrário do que se pensava, ela tinha amplo e pleno conhecimento do quadro de torturas e assassinatos, algo já mencionado pelo jornalista Elio Gaspari em sua coleção de livros sobre a ditadura.