Tudo começou nesta semana durante a sabatina promovida pelo SBT, pelo UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo. Questionado sobre o potencial de votação superior do deputado federal e ex-capitão do Exército em São Paulo, o ex-governador paulista o colocou no mesmo balaio do PT.
"O Bolsonaro e o PT são a mesma coisa. É corporativismo puro. Não tem interesse coletivo, é defesa de corporação. Ele votou igual ao PT em todas as pautas econômicas", declarou Alckmin, referindo-se à predileção de Bolsonaro de posições nacionalistas em votações na Câmara dos Deputados – hoje, o seu discurso de campanha é em favor do liberalismo.
Sobre Bolsonaro: quem anda para trás é caranguejo. O Brasil não vai regredir. O Bolsonaro e o PT são a mesma coisa, é o atraso. Ele votou igual ao PT em toda as pautas econômicas.
— Geraldo Alckmin (@geraldoalckmin) 23 de maio de 2018
A resposta do líder nas pesquisas de intenção de voto – em cenários que excluem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – não tardou e veio pelo Twitter. Bolsonaro atacou o PSDB e o último presidente da República tucano, Fernando Henrique Cardoso, que comandou o país entre 1994 e 2002.
"Geraldo Alckmin me rotula de atrasado por meus votos no passado. Um dos votos que mais me orgulha foi o contra a reeleição de FHC. Não aceitei a propina do seu partido PSDB. Concluo, Sr. Alckmin, estou aguardando alguém da sua laia me chamar de corrupto", rebateu o parlamentar.
Geraldo Alckmin me rotula de atrasado por meus votos no passado. Um dos votos que mais me orgulha foi o contra a reeleição de FHC. Não aceitei a propina do seu partido PSDB. Concluo, Sr Alckmin, estou aguardando alguém da sua laia me chamar de corrupto.
— Jair Bolsonaro (@jairbolsonaro) 23 de maio de 2018
O episódio descrito por Bolsonaro remete às denúncias de compra de votos na Câmara em 1997, quando o governo FHC trabalhou arduamente para aprovar a emenda constitucional da reeleição, a qual permitiria ao tucano tentar mais um mandato no ano seguinte – ele foi bem-sucedido em ambas as iniciativas.
Pouco depois, Alckmin também usou as redes sociais para uma tréplica ao ex-capitão do Exército.
"Bolsonaro se irritou quando revelei que vota com o PT em pautas econômicas há décadas, inclusive contra o Plano Real. Em resposta, fugiu do assunto. Fez acusações irresponsáveis ao meu partido, de forma grosseira", comentou.
Bolsonaro se irritou quando revelei que vota com o PT em pautas econômicas há décadas, inclusive contra o Plano Real. Em resposta, fugiu do assunto. Fez acusações irresponsáveis ao meu partido, de forma grosseira.
— Geraldo Alckmin (@geraldoalckmin) 23 de maio de 2018
Também na quarta-feira, o tucano compartilhou o link de uma reportagem feita pela Folha e que trata do crescimento do patrimônio da família Bolsonaro.
Nos meus mais de 40 anos de vida pública, não enriqueci, tampouco recebi benefícios indevidos. Tenho trabalho para mostrar. https://t.co/RvLNiRq8Qahttps://t.co/Krkb0Zo2Ty
— Geraldo Alckmin (@geraldoalckmin) 23 de maio de 2018
A troca de farpas entre os dois já havia começado dias antes, quando ambos foram a um evento ruralista no interior de São Paulo. Alckmin alterou a sua ida ao local justamente para não se encontrar com Bolsonaro, que horas mais cedo havia defendido a liberação de armas para o homem do campo. O tucano seguiu o discurso depois e disse concordar com a medida.
Visto com desconfiança dentro do próprio PSDB que preside, Alckmin segue tendo dificuldades para alavancar a sua campanha. O ex-governador de São Paulo não consegue chegar aos dois dígitos nas pesquisas e vê a concorrência de outros nomes na direita, como o de Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e o do próprio Bolsonaro.
De acordo com analistas, a provável ausência de Lula na urna, a fragmentação do cenário político e eleitoral e a resiliência da candidatura de Bolsonaro aumenta a pressão tanto na direita quanto na esquerda, já que o ex-capitão do Exército vai se consolidando como o possível dono de uma das duas vagas para o segundo turno nas eleições de outubro.
Com um índice que oscila sempre entre 15% e 20% há meses, Bolsonaro deve se tornar ainda mais alvo dos adversários, sejam os da esquerda para desqualificá-lo, sejam os da direita para tentar tomar votos dele. A tática de Alckmin de colocá-lo no mesmo balaio do PT é uma das tentativas de fazer a sua candidatura "derreter".
A polarização com Bolsonaro deve permanecer. Para os partidos tradicionais, há a expectativa do início da campanha para valer, a partir de agosto, com TV e rádio, é uma esperança quando o assunto é tirar votos do deputado federal, porém a campanha curta faz com que marqueteiros e assessores indiquem o início antecipado do embate com ele.