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Greve dos caminhoneiros de 99 a 2018: mesma pauta, mesmo ministro, mesma apatia

Diante de uma grave crise de abastecimento, o Brasil enfrenta a 4ª greve de caminhoneiros em 10 anos. A Sputnik Brasil conversou como o professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, Mauro Roberto Schlüter, para saber o que é diferente em 2018.
Sputnik

A greve dos caminhoneiros em todo o país começou na noite do domingo (20), impondo desgaste ao governo e recebendo amplo apoio da população. A categoria cobra uma redução significativa nos preços de combustível. A paralisação causou uma séria crise de abastecimento em todo o país. Mas não é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma greve dos caminhoneiros, que, de acordo o especialista em Logística na Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, Mauro Roberto Schlüter, tem a mesma pauta em todos os anos que ocorreu na história recente do país. 

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Em entrevista à Sputnik Brasil, Mauro Roberto Schlüter, identifica que, tanto na primeira paralisação em 1999, quanto em 2013 e 2015, e agora em 2018, as causas para as reivindicações dos caminhoneiros permanecem as mesmas: aumento no valor do frete, diminuição do custo de óleo diesel, diminuição das tarifas de pedágio. 

"Os caminhoneiros autônomos prestam serviço para as trasportadoras, e não diretamente aos embarcadores. Com isso, este mercado funciona com oferta e demanda. As leis de mercado são aplicadas aos caminhoneiros autônomos. E todas as greves eu percebi sempre a mesma causa: a diminuição de bens a transportar pelos caminhoneiros autônomos, fazendo com que o frete ficasse muito abaixo até da cobertura de seus custos variáveis", explica o especialista. 

De acordo com o professor, "essa diminuição ocorreu, a primeira vez em 99, quando apenas 3% da matriz modal do rodoviário passou para a navegação de cabotagem". 

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"Foi quando Fernando Henrique Cardozo privatizou os portos, 3% das cargas passaram dos rodoviários para a navegação costeira, e aí diminuiu o valor do frete dos caminhoneiros", diz ele.

Mauro Roberto Schlüter observa que, por causa dessa transferência de cargas para as navegações, os caminhoneiros passaram a ter que rodar mais as estradas para buscar outras fontes de transporte. "E aí fica mais evidente e de forma muito mais intensa o valor do óleo dieses e o valor dos pedágios", afirma.  

"E aí o pessoal começa a ter aquilo que a gente chama de inconsciente coletivo. A categoria percebe de forma quase que simultânea a inviabilidade de sua atuação", diz o especialista. 

Ele destacou também a falta de ação do governo, observando que em 1999 o ministro dos Transportes era o Eliseu Padilha, que também é o ministro hoje. "Eu presumo que ele talvez pudesse ter aprendido algo mais e agido de uma forma mais pró-ativa logo quando surgiram os primeiros sinais de greve", completa.  

Ao comentar se há algum objetivo político na greve dos caminhoneiros, lembrando que, em 2015, lideranças confirmaram que havia um interesse visando o impeachment de Dilma Rousseff, e por 2018 ser um ano eleitoral, o especialista foi categórico: "Não, nenhum".

"Não se percebe nenhum componente político, a não ser a falta de capacidade dos políticos em perceber os verdadeiros problemas e buscar uma solução estrutural", destacou. 

"A solução para esta greve agora ela é paliativa, mas dado o desabastecimento, o governo ao invés de colocar força policial na rua, deveria ser mais sensível às reivindicações desta categoria, atender às reivindicações sem nenhum tipo de ressalva. Se colocar a polícia pra desmanchar os bloqueios, é possível que os caminhoneiros fiquem em casa e nós continuemos desabastecidos", concluiu.  

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