No início dos protestos, ainda antes da greve, o preço cobrado nas refinarias da Petrobras correspondia a 32% do preço da gasolina e 55% do preço do diesel que o consumidor encontrava nos postos de combustível.
O ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras e atual vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ildo Sauer, conversou com a Sputnik Brasil sobre os motivos que levam à flutuação dos preço dos combustíveis no país.
"Hoje a Rússia e os países membros da OPEP são responsáveis pela exportação de aproximadamente metade dos 98 milhões de barris diários de petróleo consumidos em média. Ainda que Rússia, Arábia Saudita, EUA, tenham uma produção semelhante, os EUA ainda são importadores, de maneira que quem tem o poder de definir preços, quando controla o ritmo de produção, são aqueles países cuja produção é necessária para atender à demanda mundial", explicou Sauer.
Assim, de acordo com ele, "em torno da metade do petróleo e líquidos associados à produção do gás hoje são produzidos localmente, esses países que produzem para o seu mercado interno não são formadores de preços, eles são na verdade tomadores de preço".
Ao destacar que a OPEP tem um preço alvo para o petróleo que se situa em torno de 80 e 100 dólares, o especialista que observou que "a chamada declaração de cooperação entre a Rússia e a OPEP foi o elemento essencial para a retomada dos preços de agora depois da flutuação que nós tivemos em 2015-2016 e parcialmente em 2017".
"Evidentemente há uma disputa ferrenha entre os países da OPEP e os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) liderados pelos EUA, mas que têm nesse caso, assim como a Rússia é uma parceira da OPEP, por outro lado a OCDE tem sua grande parceira chamada China, que quer cada vez mais petróleo ao menor preço, enquanto que os países produtores liderados pela OPEP com a Rússia, do lado de quem o Brasil deveria estar […] pra manter o preço elevado, pois é melhor vender um barril por 100 dólares do que 2 por 50, porque você preserva o recurso pro futuro", afirma.
Ildo Sauer destacou que "essa geopolítica no Brasil tem sido muito descuidada", cujo início tem origem na reforma liberal no governo do Fernando Henrique Cardozo, que "resolveu tirar o monopólio da Petrobras pra transferí-lo para a União, sendo o executor a Agência Nacional do Petróleo, mas que tinha como objetivo uma submissão à lógica dos países ricos e das grandes companhias multinacionais do petróleo que perderam reservas e estão vindo buscar no Brasil".
"Eu sempre defendi que, tanto no setor elétrico, quanto no setor de derivados de petróleo nós devemos buscar um equilíbrio desses três tipos de grupos antagônicos [acionistas da Petrobras, consumidores e o povo brasileiro] que eu citei. E eu tenho dito claramente que o mais desfavorecido é o povo, que é o dono do petróleo e que muitas vezes anda a pé", afirma.
Ao falar sobre o tema em torno do atrelamento do preço do petróleo ao mercado internacional, Sauer disse defender que "o preço dos derivados de petróleo podem e devem acompanhar os patamares internacionalizados".
"É verdade que na Europa, Estados Unidos, e muitos lugares, o petróleo e seus derivados variam de acordo com o mercado internacional, e a economia se ajusta. Acontece que agora fomo pegos no contrapé: dois anos de recessão, expansão da frota de caminhões, incentivada pelo governo anterior […] e o aumento extraordinário do câmbio e do preço do petróleo. Isso criou uma situação de alta pressão", argumentou.
Ildo Sauer ainda acrescentou que defende que o Brasil deva produzir petróleo, atender a demanda interna e exportar, mas frisou que isso deve vir acompanhado da geração de um excedente.