Por que EUA temem a cooperação russo-indiana?

No início de julho, os ministros das Relações Exteriores dos EUA e da Índia se encontrarão em Washington. De acordo com algumas fontes, o assunto principal da pauta é a cooperação militar de Deli com Moscou, que causa insatisfação na Casa Branca.
Sputnik

Moscou e Deli têm o que perder e não é apenas o fornecimento de armas. Em 2017, o comércio entre os dois países atingiu o montante de US$ 8,2 bilhões (R$ 30 bilhões), com saldo positivo a favor da Rússia: as exportações russas para a Índia atingiram US$ 5,6 bilhões (R$ 21 bilhões); as importações cifraram-se em US$ 2,6 bilhões (R$ 9,7 bilhões). Por sua vez, segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), a exportação de armas caiu de US$ 2,2 bilhões (R$ 8,2 bilhões) para US$ 1,9 bilhões (R$ 7,1 bilhões). Consequentemente, a parcela de bens não militares é de 66%.

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"Acredito que neste ano poderemos superar a barreira de US$ 10 bilhões (R$ 37 bilhões). Os líderes políticos da Rússia e da Índia estabeleceram metas para elevar o comércio bilateral até US$ 30 bilhões (R$ 113 bilhões) até 2025. Para isso, é necessário um aumento anual de 15%", informou o representante oficial em Nova Deli, Yaroslav Tarasyuk.

As relações russo-indianas são um vasto conjunto de acordos construídos ao longo de 65 anos a partir da assinatura do primeiro acordo comercial e de assistência técnica.

A Índia é um grande mercado para os produtos russos. Isso também se refere ao gás natural liquefeito (GNL). O primeiro lote foi fornecido no início de junho em conformidade com o acordo de longo prazo entre a Gazprom e a empresa indiana Gail. Nos próximos 20 anos, a Gail deverá receber 2,5 milhões de toneladas de gás anualmente.

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Por sua vez, Moscou respeita o desejo do governo indiano de não se limitar apenas à compra de armas, mas adquirir tecnologia, estabelecer a produção de armamentos no seu país, de acordo com o programa Make in India (Faça na Índia, em português). Entre tais projetos estão incluídos o caça Su-30MKI, os tanques T-72M1 e T-90S, entre outros. Nenhum país firma esses acordos exceto a Rússia.

Ao desencadear uma guerra comercial com todos os parceiros, a administração de Trump voltou-se para a Índia. Certamente, será muito difícil estabelecer boas relações no curto prazo, considerando que os EUA apoiaram ativamente o Paquistão no final do século passado.

Por isso, a Casa Branca usou todos os meios –  a ameaça de sanções e o aumento de tarifas sobre as importações de bens indianos. Devido às novas tarifas sobre o alumínio e aço, a Índia já perdeu US$ 241 milhões (R$ 907 milhões) e, em contrapartida, impôs tarifas a 30 produtos norte-americanos.

A cooperação entre a Rússia e a Índia está seriamente ameaçada. Como as transações entre os dois países estão sendo efetuadas em dólares norte-americanos, as estruturas financeiras indianas temem entrar na lista negra dos EUA e congelaram o capital destinado aos contratos de cooperação militar e técnica com a Rússia.

A mídia indiana informa que, desde abril, os bancos congelaram US$ 2 bilhões (R$ 7 bilhões) reservados para os projetos críticos, entre os quais a manutenção do submarino nuclear alugado à Rússia — o projeto 971 Schuka-B.

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Uma das principais queixas do lado norte-americano é a intenção das Forças Armadas da Índia de comprar o sistema de mísseis antiaéreos S-400 Triumph, no valor de cerca de US$ 6 bilhões (R$ 22 bilhões). Provavelmente, durante o encontro em Washington, o secretário de Defesa dos EUA James Mattis tentará convencer sua homóloga Nirmala Sitharaman a adquirir o Patriot norte-americano, inferior ao S-400.

A ministra da Defesa da Índia terá que escolher: ou ceder às exigências dos EUA e ficar atrás do maior concorrente geopolítico, a China, que já comprou o S-400, ou estragar as relações com Washington.

Evidentemente Deli prefere comprar o S-400 e evitar as sanções norte-americanas. Para isso há opções.

Segundo a mídia indiana, Moscou e Deli já começaram a discutir esse assunto. Uma fonte de alto escalão no governo da Índia observa que a primeira e mais óbvia solução é fazer as transações em moeda nacional. Assim que as partes concordarem, a ameaça das sanções dos EUA desaparecerá e a cooperação russo-indiana poderá continuar no setor da defesa.

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