Mexicanos, venezuelanos, chineses, brasileiros, russos — essas e muitas outras foram as nacionalidades que vestiram a camisa das quinas na noite da grande batalha entre as equipes de Cavani e CR7. Menos os próprios portugueses.
A dominância uruguaia nas arquibancadas já dava para sentir fora do estádio — umas horinhas antes do jogo, quando os fãs da "celeste" se reuniram em barzinhos perto do Fisht para apoiar seu time "hermano" — o da Argentina. Aproveitaram a oportunidade para aquecer sua própria torcida com gritos, danças e canções.
"La celeste nunca muere!" — a frase aparecia em todo lado, escrita em panos, gravada na pele, berrada ao ar. E a torcida lusa? Foi só uma vez que ouvi humilde tentativa de um grito vitorioso por parte de um grupo pouco numeroso…
Um dos guardas que se ocupava da vigilância perto das entradas do Fisht me revelou que, segundo os dados da sua entidade, o número de portugueses que viajaram para o evento foi por volta de 1.000, sendo que foram 44.000 os ingressos totais vendidos para o jogo. E podem confiar, esse milhar de portugas se perdeu completamente em meio ao mar de camisas azul-claras.
Não foi apenas uma impressão minha: acabei sendo testemunha de várias conversas entre os espetadores, inclusive russos, fora do estádio. Em uma das ocasiões, ouvi tal resposta de um amigo para outro: "Pois, mano, Portugal é um país pobre". A objeção por parte do primeiro foi justa e lógica: Uruguai está bem longe de ser rico também, tanto mais que fica ainda para além do Atlântico.
CR7 como ícone internacional
Mas claro que as camisas da Seleção Portuguesa também brilharam nas multidões nesta noite. Só que, na maioria dos casos, não eram vestidas por portugueses. Falei com vários apoiadores estrangeiros da equipe lusa (podem crer que não foram escolhidos com intenção, mas apenas pela aparência) para descobrir o que lhes fez fazer tal escolha apesar de alguns deles terem seus times nacionais participando do torneio.
Dois amigos parecendo bem lusos, de clássica camisa da Seleção, acabaram por ser mexicanos. Em conversa com a Sputnik Brasil, confessaram que seu apoio aos portugueses tem a ver com, como se houvesse dúvidas, o craque Cristiano Ronaldo.
Reconheceram, porém, que fizeram exceção só para um dia, sendo de fato torcedores da equipe mexicana.
"Tenham medo", diz um dos amigos, Alan, em referência à próxima partida da seleção canarinha, nas oitavas. "Esperamos que Chicharito faça gol", adianta.
Outro fã do time português, Jaime, vestido de bela camisa preta com linhas fininhas verdes e vermelhas, uma das raridades da Seleção Lusa, fala pouco inglês e primeiro recusa dar entrevista. Contudo, logo revela que é de fato da Venezuela, embora tenha a ascendência portuguesa.
"Minha mãe vem de Portugal, meu pai vem de Portugal, mas sou da Venezuela. Vivi toda minha vida lá, não falo português, mas Portugal fica no meu coração", desembucha.
E aí apareceram eles — um casal incrível de trajes fantásticos, tudo em cores da bandeira das quinas, provocando enorme "fome" dos fotógrafos ao seu redor, e até dos policiais lusos que estavam perto do Fisht no âmbito da cooperação com entidades do país anfitrião. Só um detalhe — são Uliana e Andrei, torcedores russos.
"Tem uma festa hoje. Nós simplesmente amamos futebol. Portugal joga bem, toda a equipe", diz a moça, revelando que chegaram de Moscou e planejavam apoiar o time luso até a final… Só que já não vai dar.
Acabei falando também com um grupo de uruguaios que festejavam perto do Fisht, fazendo um elogio a Carlos, líder da torcida.
"Eu não vi torcida lusa aqui. Certamente temos uma mentalidade muito forte, somos 3,4 milhões e acho que todo o país está assistindo a partida, enquanto todos que puderam chegaram. Acho que isso pode decidir a diferença entre Portugal e Uruguai [hoje]", disse o torcedor, predizendo o resultado.
Resposta lusa
Foram pouquíssimos, sim, mas, no final das contas, consegui encontrar os lusos "genuínos" em Sochi. A primeira pergunta sempre foi "Cadê sua torcida?", e parece que os entrevistados também estavam fazendo a mesma pergunta a si mesmos.
"Estão em Portugal. Parece que desta vez os portugueses não aderiram ao Campeonato do Mundo, porque na realidade tem se visto muito pouco, muito, muito pouco", diz o português Hugo Valentim.
De fato, o grupo de três amigos nem chegou à Rússia como torcedores, mas pela profissão.
"Não sei se foi falta de confiança… Porque nós somos mídia, estamos aqui a trabalhar, mas eu acho que foi por falta de confiança que pudéssemos passar pela fase de grupos", acrescenta Vasco Figueiredo.
Outro "trio", dessa vez torcedores valentes sem quaisquer obrigações de trabalho, também se mostra descontente com o "apoio" dos seus compatriotas.
"É uma m**da. É uma vergonha", exclama Paulo.
Enfim, Portugal foi eliminado na fase de oitavas em meio a bastante expectativa, seja pela supremacia da "celeste" ou pelo pênalti polêmico contra a equipe lusa ainda na terceira partida da fase de grupos. Mas uma coisa é certa: a ausência da sua torcida nas arquibancadas não ajudou em nada o time luso no sofrido jogo de ontem.