Verdadeiro inferno: como Vietnã sobreviveu a ataques químicos dos EUA (IMAGENS FORTES)

Nos anos 60, as Forças Armadas norte-americanas, que realizaram a operação Ranch Hand, contraminaram com dioxina 10% do território do Vietnã do Sul. Este foi o uso mais amplo de armas químicas na história. A Sputnik falou com vietnamitas que sobreviveram a estes bombardeamentos.
Sputnik

AIDS química

A principal arma de destruição maciça dos EUA na guerra no Vietnã (1964-1975) foi o chamado Agente Orange que continha dioxina, a substância mutagênica mais perigosa. O agente foi denominado assim por ser transportado em barris cor de laranja. A companhia Monsanto, contratada pelo Departamento de Defesa dos EUA, era o produtor da substância.

Centro de reabilitação para vítimas do Agente Orange em Da Nang

Com esse agente era queimada a selva do Vietnã do Sul, para que os guerrilheiros não pusessem se esconder. Durante dez anos, os americanos espalharam de aviões cerca de 80 milhões de litros desse agente, contaminando os rios e o solo.

Quanto às pessoas, a dioxina causa problemas de metabolismo, doenças oncológicas, destrói o sistema imunitário, leva à chamada AIDS química. E tem consequências catastróficas para a hereditariedade.

Os filhos dos vietnamitas que sobreviveram aos ataques nasciam com os crânios deformados, sem olhos, nariz ou membros. O diagnóstico mais leve era deficiência mental.

"Desde o início que os americanos sabiam sobre as consequências, mas mentiam constantemente que o agente não era perigoso para as pessoas e que apenas destruía a selva", contou à Sputnik Vietnã o general vietnamita aposentado Nguyen Van Rinh.

"Eles percebiam que os principais a sofrer seriam os camponeses comuns. Os guerrilheiros simplesmente abandonavam as regiões contaminadas. Mas os camponeses estavam ligados às suas casas, famílias, campos de arroz. Foi uma medida de intimidação", acrescentou.

Sangue por todo o lado

Nguyen Dang Tri, que na época serviu no exército, contou que quanto capturaram um piloto da Força Aérea dos EUA, prestaram-lhe primeiros socorros e o trouxeram ao quartel-general do Exército. "Ninguém lhe fez mal, embora muitos estivessem exasperados", contou.

Nguyen Van Tuan, filho de Dang Tri e Thi Nguyen

É de assinalar que ele não foi contaminado na frente de batalha, mas quando voltou ao seu povoado envenenado. Sua pele cobriu-se de chagas, com pus, com um muco, recorda. "O sangue saía por todo o lado, de todos os orifícios, não fui ferido enquanto combatia. Mas fui envenenado em casa", adicionou.

Dang Tri e Thi Nguyen

O primeiro filho dele morreu logo, o segundo viveu apenas um ano. O terceiro filho tem agora mais de 40 anos, mas não sabe andar nem falar. O quarto filho também sobreviveu, mas tem deficiência mental, o nível de seu desenvolvimento pode ser comparado com o de uma criança do pré-escolar.

'O marido não conseguia ver isso'

O marido de Pham Thi Hang também foi contaminado com o agente. Eles têm quatro filhos, todos com mutações.

Os vizinhos deles contam que depois do nascimento do terceiro filho, o marido de Pham Thi Hang queria se suicidar, deixou seu trabalho, passou a espancar a mulher, embora antes fosse tranquilo e bondoso.

Filho de Pham Thi Hang

"Bebia, não voltava a casa por muito tempo, não queria ver isso. Depois bebeu demasiado e morreu", conta a mulher.

No entanto, os netos dela são absolutamente saudáveis, e é por eles que a mulher se levanta todos os dias.

Pham Phuong , Pham Vui, netos de Pham Thi Hang

Conforme as estatísticas, este agente químico atingiu três milhões de vietnamitas, hoje em dia um milhão deles são deficientes. Além do mais, as organizações internacionais até agora ainda não reconheceram isso como crimes de guerra ou crimes contra a humanidade.

O general vietnamita ressalta que para os EUA "somos pessoas de segunda categoria" e por isso não tiveram direito a indemnizações dos Estados Unidos, embora os próprios crimes tenham sido provados e reconhecidos juridicamente.

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