Quem quiser revisitar episódios deste passado glorioso tem uma oportunidade especial: a exposição "Fome de gols", realizada na Reserva Cultural, em Niterói e em São Paulo, traz um acervo especial de fotos de craques e partidas importantes do período. Além das fotos, os restaurantes da Reserva Cultural também estão servindo pratos especiais da culinária russa.
O evento é organizado pela Agência Federal de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, de Compatriotas no Exterior e de Cooperação Internacional Humanitária da Rússia (Rossotrudnichestvo), em parceria com a Agência de Notícias e a Rádio Sputnik.
Yashin, conhecido como "Aranha Negra", ficou famoso por revolucionar a posição de goleiro ao sair para cortar cruzamentos e não tinha medo de interceptar passes e chutes. Além disso, o próprio dizia que tinha um ritual antes dos jogos: um cigarro para "acalmar os nervos" e uma dose de vodka para "tonificar os músculos". Exímio pegador de pênaltis, Yashin também afirmou: "A alegria de ver Yuri Gagarin no espaço só é superada pela alegria de uma boa defesa de pênalti".
O jornalista e pesquisador Emanuel Júnior ressalta que o futebol era visto com algum ceticismo pelos líderes soviéticos por ser um possível "instrumento de despolitização do proletariado" ao mesmo tempo que também era valorizado como ferramenta de desenvolver a cultura física.
"O sentimento nacional de cada povo fazia com que os clubes de Moscou fossem odiados pelos times e torcedores de fora da Rússia. Por isso, Dínamo Kiev, Dínamo Minsk, Dínamo Tbilisi e Ararat Yerevan, por exemplo, eram vistos como símbolos nacionais da Ucrânia, Bielorrúsia, Geórgia e Armênia, respectivamente", diz o pesquisador à Sputnik Brasil.
Os craques do futebol soviético não ganhavam salários astronômicos tal qual hoje — mas também não eram cidadãos comuns. Emanuel ressalta que formalmente todos os jogadores eram amadores, mas principalmente após o começo do campeonato soviético, os atletas puderam ter dedicação exclusiva ao esporte.
"Os melhores jogadores, e também treinadores, eram disputados pelos principais clubes soviéticos. E, naturalmente, além de melhores salários, também eram persuadidos com ofertas de boas residências e carros. Os grandes clubes de Moscou levaram vantagem por muito tempo, até pela atração de estarem na capital e mais próximos ao poder central. Entretanto, a partir dos anos 1960, a figura dos patronos passou a ser cada vez mais influente em clubes de outras regiões. A influência dos patronos por exemplo, foram determinantes para as fases áureas dos Dínamos de Kiev e Tbilisi, os únicos clubes soviéticos que conquistaram troféus continentais."
O jornalista e pesquisador afirma que os patronos dos clubes costumavam ser líderes do Partido Comunista, como Volodymyr Shcherbytsky, responsável por garantir o orçamento que levou o Dinamo Kiev a um período de sucesso nas décadas de 1970 e 1980. Outro patrono de destaque foi Eduard Shevardnadze, presidente do Dinamo Tbilisi e líder do Partido Comunista da Geórgia. Sob a direção de Shevardnadze, o Dinamo venceu o Campeonato Soviético em 1978, duas Copas (1976 e 1979) e uma Recopa Europeia (1981). O sucesso do time ajudou o líder comunista a conseguir se eleger como primeiro presidente da Geórgia após o fim da URSS.