O Pesquisador Jean-François Nativel, que comentou o assunto para a Sputnik França, acredita que a culpa da situação seja do governo francês, que de forma imprudente escolheu instalar uma enorme reserva marinha perto de praias turísticas.
"Quando você é privado do mar, é como uma prisão", disse em outubro a ministra francesa de Ultramar, Annick Girardin, que está em visita à ilha de Reunião. Esta opinião é compartilhada por ilhéus: várias associações fizeram um apelo conjunto em 26 de julho, condenando a proibição "temporária" de cinco anos de acesso ao oceano. "Isso agrava o absurdo da situação no único território francês, uma ilha que não tem acesso ao oceano", reclamaram.
Esta ilha é a região do país onde ocorre o maior número de ataques de tubarão. De acordo com um estudo da Universidade de Reunião, "o indicador anual das consequências das mordidas de tubarão na ilha de Reunião é um dos mais altos do mundo". A probabilidade de um ataque de tubarão "aumentou em 23 vezes de 2005 a 2016", e a participação da prática de surf na ilha "caiu 10 vezes entre 2011 e 2016".
De acordo com Nativel, presidente da Prevenção Oceânica de Reunião (POR, na sigla em francês), ocorre uma espécie de "polarização étnica": "os tubarões se tornaram na ilha uma desculpa para os críticos dos ‘novos colonos', acusados agora do desejo de ‘colonizar o oceano' depois que eles tomaram a terra."
"O homem não é mais percebido como um predador", diz Nativel, autor do livro "Tubarões de Reunião, uma tragédia moderna", apresentado como "um informante sobre a crise".
"A reserva marinha foi criada sem levar em conta a presença de tubarões, que, aliás, já eram frequentes na área", lamenta. "Desde 2011, os ataques alcançaram a zona do resort."
Ele critica as "bem-intencionadas declarações do país", que tenta "impor uma abordagem moderna", baseada na coexistência. "Ou você é presa ou predador", afirma ele.
Em 2012, o Centro de recursos e apoio contra o risco de ataque de tubarão (CRA, na sigla em francês) registrou 18 ataques, incluindo 7 mortes. Um ano mais tarde, o prefeito aprovou uma resolução para proibir banhos e outras atividades na zona a 300 metros da costa.
A proibição "temporária" foi renovada oito vezes, dificultando o desenvolvimento do turismo na ilha e não contribuindo para resolver o problema. De acordo com a associação, "a proibição é ilegal, uma vez que tem um prazo e viola os princípios de liberdade e igualdade aos quais a França atribui tanta importância".
"Sim, a responsabilidade por isso é do Estado. Em 2007, permitiu a criação de uma reserva na zona do resort, organizada sob sua liderança na década de 80", enfatizam as associações.
Essas espécies de tubarões "estão perto de uma posição vulnerável", de acordo com a classificação da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). A venda de carne é proibida por ser considerada tóxica, e por isso a sua captura parou. No entanto, o grupo "Mulheres de rosa", que reúne as mães que perderam suas crianças devido a ataques de tubarão, é a favor novamente da permissão da venda de carne destes animais para controlar o número destes animais na área.