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Megaoperação no Alemão tem como objetivo 'favorecer algumas candidaturas', diz ativista

A ação das Forças Armadas nos complexos da Penha, Maré e Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, que ocorre desde segunda-feira (20), tem resultados eleitorais. A avaliação é de Thainã de Medeiros, ativista e membro do Coletivo Papo Reto.
Sputnik

"É importante reparar que essa operação acontece muito próxima do começo do período eleitoral. Isso favorece certos discursos de ódio, que neste momento estão ganhando popularidade", afirma. "Eles estão favorecendo algumas lideranças, algumas candidaturas."

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Por volta das 6 horas da manhã de segunda-feira, cerca 4 mil homens das Forças Armadas invadiram o conjunto de favelas da zona norte. Medeiros diz que chegaram relatos de mulheres que foram revistadas e apalpadas por soldados homens. O integrante do Coletivo Papo Reto também informou que os militares estão vasculhando os celulares e as casas dos moradores da região sem qualquer tipo de autorização judicial. "Eles olham o celular sem mandado — e se você recusar pode receber porrada."

"Isso é comum desde sempre. Eles já mapearam os grupos que existem [no WhatsApp]. Na última operação do Bope, eles estavam procurando o grupo do Coletivo Papo Reto, por exemplo", afirmou Medeiros à Sputnik Brasil. 

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Segundo o Comando Militar do Leste, a operação resultou em 70 prisões, 5 reféns resgatados, 14 armas apreendidas e na captura de 544 quilos de maconha. A ação já resultou na morte de 5 pessoas. Além destas vítimas, 2 militares também morreram. São as primeiras mortes de homens das Forças Armadas em confrontos desde que a intervenção foi decretada, no começo do ano.

Medeiros afirma que o número de vítimas é "com certeza" maior do que o divulgado já que os militares impedem que os moradores da região resgatem os corpos de vítimas que estão em matas da região. Ele também relata que um homem da Penha chegou a ser detido por fazer parte de um grupo de WhatsApp.

A intervenção federal tem aspectos positivos? Especialista responde

Para o antropólogo Paulo Storani, professor da Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro, ex-instrutor do Bope – Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar – e, hoje, comentarista de Segurança Pública, a intervenção federal tem, sim, aspectos positivos.

"O positivo – e que eu considero um marco na história deste país, nesse processo de intervenção federal no Rio de Janeiro – foi a criação do Ministério da Segurança Pública", afirma Storani, em entrevista à Sputnik Brasil. "Foi o momento em que o Governo Federal reconheceu, cabalmente, a sua responsabilidade, fato que foi omitido pelos governos anteriores, de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. O governo Lula até desenvolveu algumas atividades no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública, mas nunca teve um Ministério específico. Com a criação do Ministério da Segurança Pública, o Governo Federal saiu da posição, cômoda, de torcedor na arquibancada para entrar em campo e jogar o jogo."

Para Paulo Storani, o Rio de Janeiro poderia estar numa situação ainda pior se não tivesse contado com o apoio das Forças Armadas, apesar das mortes de três integrantes do Exército em operações realizadas a partir da segunda-feira, 20, em comunidades da Zona Norte: Maré, Penha e Alemão. Nos confrontos com os criminosos, morreram o cabo Fabiano de Oliveira Santos e os soldados João Viktor da Silva e Marcus Vinícius Viana Ribeiro.

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"Sobre a intervenção, em si, no Rio de Janeiro, eu entendo que se ela não tivesse ocorrido nós poderíamos estar numa situação ainda pior do que aquela em que estamos hoje", diz Storani. "Eu acredito que a intervenção federal serviu para conter o avanço da criminalidade no Rio de Janeiro. Embora os indicadores mostrem que, em alguns aspectos, a criminalidade avançou, eu penso que sem a intervenção nós poderíamos estar bem pior. Percebe-se que há uma tutela do Governo Federal para as ações que estão sendo desenvolvidas no Rio de Janeiro. Mas, inegavelmente, essas ações levaram à morte de três integrantes das Forças Armadas (do Exército, especificamente), o que pôde mostrar aos militares o que a Polícia Civil e a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro vêm enfrentando ao longo dos anos. Mas a nossa esperança é de que isso não volte a acontecer."

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