Em pesquisa realizada pela Ipsos em parceria com o professor Sérgio Lazzarini, do Insper, com 1.200 pessoas, em 72 municípios do país na primeira quinzena de julho, apenas 17% dos entrevistados disseram ser a favor da privatização de estatais, contra 68% que disseram ser contrários e outros 15% que não sabem ou não quiseram responder. No caso da Petrobras e do Banco do Brasil, a rejeição foi ainda maior, de 70%, e de 71% no caso da Caixa Econômica Federal.
A aprovação aumenta nas classes AB, em que 27% apoiam a desestatização, e entre os que têm ensino superior (28% são a favor). E cai para 9% nas classes DE e para 7% entre os que não frequentaram escola.https://t.co/woxSb2AdE9
— Congresso em Foco (@congemfoco) 25 de agosto de 2018
Para o economista Nildo Ouriques, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), os números presentes nesse levantamento mostram um perfil do cidadão brasileiro que se opõe de maneira muito clara contra o liberalismo econômico que tem crescido no país ao longo dos últimos anos. Segundo ele, a pesquisa indica que apesar da "manufaturação da opinião pública em rádio, jornal e televisão pela manhã, à tarde e à noite", a opinião pública brasileira ainda mantém uma "lucidez mínima sobre questões essenciais do Estado", de política, economia e cultura.
"Esses programas econômicos que estão circulando por aí, desses candidatos — da imensa maioria deles, todos a favor da privatização —, não têm sustentação na opinião pública. E, portanto, se respeitássemos a opinião pública, nenhuma dessas privatizações poderia ser realizada", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.
O especialista afirma não ter dúvidas de que esse posicionamento tem tudo para se refletir nos votos para presidente nas eleições de outubro. Segundo ele, esse liberalismo, rejeitado pela população, se apresenta com duas vertentes, uma defendida por candidatos da direita e a outra presente em nomes da esquerda.
De acordo com Ouriques, o programa de privatizações levado a cabo pelo governo de Michel Temer pode ser entendido como uma forma de preparar o terreno para a próxima administração. Ele acredita que o atual chefe de Estado se aproveita de sua pouca popularidade para avançar pautas mais duras que, muito provavelmente, serão levadas adiante pelo próximo presidente, já que, na atual conjuntura, "todos estarão, em alguma medida, interessados em privatizar algumas questões".
"A grande questão dessa eleição é o fato de que, em larga medida, os candidatos se assemelham. Isso pode parecer uma heresia para alguns, que votam no Ciro, que votam na Manuela, que votam no Haddad, mas, no essencial, ninguém está disposto a fazer algo que seria elementar: romper com o latifúndio, romper com o rentismo, enfrentar o sistema da dívida, renovar as instituições da República... Essa possibilidade é nula", afirmou o economista, destacando que, para ele, os postulantes ao Palácio do Planalto no pleito deste ano estão todos interessados em que o governo Temer "faça todas essas privatizações antes que eles cheguem" ao poder.