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'PT apresentou candidatura com sabedoria', diz ex-ministro argentino sobre Haddad

Não há dúvidas que a atual corrida eleitoral no Brasil é uma das mais acirradas e imprevisíveis. Como é que ela é vista em outros países latino-americanos, dado que estes costumam se desenvolver “em sintonia” ao longo da história?
Sputnik

Em uma entrevista exclusiva para a Sputnik Mundo, Jorge Taiana, ex-chanceler argentino que ocupou o cargo entre 2005 e 2010, compartilhou a sua visão das próximas eleições no Brasil, cujo resultado considera vital para todo o continente, se pronunciando também sobre o recente processo contra a ex-presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner.

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O dirigente argentino assinalou que o resultado das eleições, cujo primeiro turno se realizará em 7 de outubro, "não se aplica simplesmente aos brasileiros", já que "as consequências daquilo que aconteça" terão repercussões muito além das fronteiras do gigante sul-americano.

Candidatura de Haddad

Ao discursar em São Paulo durante uma conferência da Fundação Perséu Abramo, um think tank brasileiro criado pelo PT para promover projetos político-sociais, Taiana qualificou a nomeação de Fernando Haddad como candidato petista como "uma resposta à efetiva proscrição de Lula", uma situação que ele considerou que "viola claramente a Constituição, os princípios democráticos e o Estado de direito".

"Com a candidatura de Haddad, creio, confio e espero que o povo do Brasil possa desarmar essa armadilha que foi gerada pelo poder", disse o ex-chanceler argentino.

Vale relembrar que, antes da decisão final do TSE, Lula liderava todas as pesquisas em meio a uma extrema polarização política, deixando atrás a candidatura de Bolsonaro.Após a rejeição final da Justiça, o ex-presidente apelou aos cidadãos para confiarem no seu vice da chapa, Fernando Haddad, que começou sua campanha em 11 de setembro. Este, por sua vez, logo subiu nas pesquisas, deixando cada vez menor a diferença entre ele e seu maior rival, Bolsonaro.

Acontecimentos de 2016

Na opinião de Taiana, o que aconteceu no Brasil entre abril e agosto de 2016 foi um "golpe em duas etapas". A primeira foi o próprio afastamento da presidente, "para que o PT não governe", enquanto a segunda consistiu em "proscrever Lula para evitar que o PT volte a governar".

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"Pelo meio, fizeram reformas econômicas, entregaram soberania e riquezas. Confio em que a candidatura de Fernando Haddad tenha forte apoio do povo brasileiro e permita desarmar esta armadilha dos poderosos e das grandes mídias concentradas do poder financeiro dos grandes centros internacionais", opinou o ex-ministro.

De acordo com ele, estes precisos grupos "pretendem evitar que na América Latina, e sobretudo na América do Sul, voltem ao governo administrações de fortes raízes e compromisso nacional e popular".

Situação no PT

Enquanto isso, Taiana opinou que "em geral há otimismo" entre os líderes do PT e analistas políticos no que se trata da transferência da liderança de Lula para Haddad, embora faltem apenas menos de três semanas antes do primeiro turno eleitoral.

Já entre as figuras do partido presentes na respectiva conferência estava a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, além do ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, do ex-premiê francês Dominique de Villepin e do ex-premiê italiano Massimo d'Alema, bem como o famoso acadêmico estadunidense Noam Chomsky.

"O sentido final de tudo que vem sucedendo no Brasil durante os últimos dois anos é simplesmente evitar que volte a haver um governo popular. Todos sabem que a figura fundamental ou central para o conseguir por parte das forças populares era a candidatura de Lula", afirmou.

Para isso, assegura, foi montado todo um sistema de vários componentes.

"Então, fizeram toda uma criação jurídica e política, com componentes midiáticos e do poder judicial para evitá-lo. Mas creio que o PT apresentou uma candidatura com sabedoria. Creio que o povo a vá apoiar e isso permita que haja de novo esperança no Brasil, que se possa ter novamente sonhos de progresso e bem-estar", opinou.

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Além disso, Taiana se mostrou crítico em relação ao processo com prisão preventiva contra a ex-presidente do país, Cristina Fernández de Kirchner, tendo ela sido mandatária durante a maioria do período dele como ministro das Relações Exteriores.

Na opinião do diplomata, a falha do juiz federal Claudio Bonadío por uma suposta associação ilícita é "um passo mais para a deterioração do Estado de direito na Argentina". Aliás, ele afirmou que este processo se encaixa da maneira de operar da Justiça nacional, que inclusive se estende a outros países da região.

"É muito similar com o que acabamos de dizer sobre Lula, com o que está passando no Equador, com o que querem preparar na Bolívia. Há uma ação dos poderes concentrados, das grandes mídias e setores do poder judicial, que têm uma política ativa de fortalecer restaurações neoliberais e fustigar, estigmatizar, isolar e perseguir os dirigentes populares", concluiu ele.

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