"Achamos que é um absurdo a pessoa que é responsável, ou pelo menos deveria ser responsável, pela construção da unidade entre as nações americanas, o secretário-geral da OEA, venha com uma postura dessa, de ameaçar intervenção militar na Venezuela", afirmou Antonio Lisboa em entrevista à Sputnik Brasil.
O secretário de Relações Internacionais da CUT acredita que as declarações de Luis Almagro criam uma crise de credibilidade na organização, que deixa de cumprir seu papel de unidade.
"Isso é um profundo desrespeito à soberania da Venezuela, um profundo desrespeito à construção da unidade americana e ele, que deveria trabalhar nisso, fica incentivando a criação de conflitos na região. Eu acho que ele deveria pedir para renunciar, porque ele não está dando conta e não foi para isso que ele foi eleito", acrescentou.
Antonio Lisboa também afirmou à Sputnik que a atual postura internacional do Brasil tem sido desastrosa. "Como disse o Chico Buarque, o governo brasileiro fala fino com os Estados Unidos e fala grosso com a Bolívia, nesse caso, com a Venezuela", afirmou Antonio, que acredita que há outras formas de se lidar com a crise no país vizinho.
"A atual política externa brasileira traz de volta uma total subserviência aos Estados Unidos e começa a também incentivar as crises na região", enfatiza Antonio Lisboa. Ele aponta que uma solução possível seria buscar o intermédio da UNASUL, inclusive com ajuda humanitária, se for o caso, para poder construir a normalidade das relações entre o governo e a oposição venezuelana.
A posição oficial do Brasil sobre as declarações do líder da OEA veio junto do Grupo de Lima, composto também por Argentina, Chile, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia, rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar ou qualquer uso de violência ou sequer ameaça de uso da força contra a Venezuela. A declaração faz as críticas sem citar diretamente Almagro.
Campo progressista pode mudar postura internacional do Brasil
Para Antonio Lisboa, as eleições brasileiras terão um impacto direto nas possíveis resoluções sobre a crise na Venezuela. Ele afirma que o impacto pode ser tanto de uma postura de mediação do conflito, quanto de manutenção da atual política.
"Se um candidato de extrema-direita vencer as eleições, isso vai tornar a situação da região muito mais complexa, muito mais delicada e muito mais perigosa", afirma Lisboa, em referência a Jair Bolsonaro (PSL).
Ele acredita, no entanto, que a vitória de candidatos progressistas, como Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) deva mudar a atual postura do país em relação à crise venezuelana. Nesses casos, segundo ele, a tendência é de abertura de pontes de diálogo para mediação do conflito.