O debate, sediado pelo clube de discussões Valdai, fundado em 2004 para promover um diálogo aberto entre políticos, especialistas e jornalistas de diversos campos, contou com a participação tanto de analistas e representantes de entidades públicas de ambos os lados, como de estudantes e correspondentes de mídias diferentes.
"Queria evitar avaliações profundas de caráter político, […] hoje é uma data notável, pois ontem se celebraram 190 anos desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre os nossos países. Na época, o imperador Nicolau I assinou uma diretiva sobre a nomeação do primeiro enviado russo para o Brasil […] e, a propósito, aí o Brasil virou o primeiro Estado na América Latina com o qual celebramos um relacionamento diplomático a nível formal", contou Schetinin.
O diplomata também frisou que a Rússia, por sua vez, se mostra engajada na cooperação bilateral, independentemente dos processos que decorrem dentro do país.
"Queria falar logo desde o início, e estabelecer nossa postura de forma bem clara: estamos interessados em um Brasil forte e independente, com alta responsabilidade global, com um papel construtivo e independente na arena internacional. E esse estatuto não depende, e não deve depender, da orientação do governo no poder", disse o alto representante, relembrando o apoio dado pelo lado russo às iniciativas brasileiras nos órgãos internacionais, como a de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Aliás, no decorrer da discussão o diplomata observou que a tendência formada na interação bilateral russo-brasileira demonstra a continuidade na política externa, ou seja, o fator de continuidade sempre foi algo constante para o Brasil, independentemente dos regimes que se sucediam.
Ao responder à pergunta da correspondente da Sputnik Brasil sobre factual ausência da agenda internacional nas pautas dos candidatos e se isso pode ser considerado como uma falha, a brasilianista e especialista em assuntos latino-americanos, professora titular da Universidade de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO), Lyudmila Okuneva, sublinhou que esse é um traço bem caraterístico da realidade política brasileira.
"A coisa é que, por tradição, os assuntos da política internacional nas eleições brasileiras ficam no segundo plano. O único caso em que esses assuntos se discutiam de alguma maneira aconteceu durante as eleições de 2014, no segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, seu principal rival. Lá se levantavam as questões dos BRICS, portanto Neves os criticava e apelava para a saída do bloco […] Não vou dizer se isso é bom ou mau, isso é uma tradição para o Brasil", assegurou.
Em modestas reflexões sobre o processo eleitoral no Brasil, Aleksandr Schetinin manifestou que, em opinião dele, é útil se afastar da formada narrativa de polarização eleitoral entre a esquerda e direita e refletir inclusive sobre outros indicadores nas vésperas do pleito deste domingo.
"O Brasil é conhecido como um país de federalismo muito desenvolvido. Daí existirem grandes elites financeiro-econômicas que se formam na base de certas regiões e estados. Haddad, por exemplo, representa a chamada elite paulista, ou seja, provinda de São Paulo. Mas ainda há grupos cariocas e outros, o que também é um aspecto importante. E eu acho que esse fator será um dos mais significativos. Prestem também atenção não ao índice de apoio a um ou outro candidato, mas a seu índice de rejeição […] Em geral, esses dados nos dão um melhor entendimento do ulterior desenvolvimento da situação", analisou.