Em uma entrevista à Sputnik Mundo, o pleito que conduzirá quase 150 milhões de brasileiros amanhã e, provavelmente, em 28 de outubro, foi analisado por Esteban Actis, doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, especializado em assuntos brasileiros.
De acordo com as pesquisas de hoje, é quase certo que nenhum dos candidatos recolherá votos suficientes para ganhar no primeiro turno.
"Claramente, a polarização entre esses dois candidatos vai se aprofundar. Temos que ver como eles conseguirão apoio por parte dos outros partidos, por exemplo, do PSDB ou do PMDB, ao qual [o presidente] Michel Temer pertence. Pequenos partidos ou forças importantes com pouca representação terão que definir seu apoio", afirmou o analista.
Enquanto isso, no domingo também se define a composição de boa parte do Congresso (dois terços da câmara alta e toda a câmara baixa). Tudo isso acontece em meio a um sistema político brasileiro em alto nível de fragmentação, com um número efetivo de partidos bem acima da média — uma situação que continuará mesmo após as eleições.
"Espera-se um parlamento hiperfragmentado. Por isso, aquele que se tornar presidente — seja Haddad ou Bolsonaro — terá que realizar coalizões governamentais muito caras em termos políticos e econômicos para assegurar a governabilidade", explicou Actis.
"Qualquer um que ganhar terá um grande desafio de poder pegar o touro pelos chifres e ter um governo com certa força política", adiantou.
Ao mesmo tempo, nesta "polarização profunda" das presidenciais devemos ver como reagem outros atores, como os mercados, que mostraram sinais de preferir Bolsonaro, "pois prometeu uma economia muito mais aberta que o PT".
Na América Latina, as eleições no Brasil têm impacto devido ao peso que o Brasil tem na região. De acordo com Actis, "claramente, os dois candidatos têm diferentes propostas de políticas de gestão" nesse aspeto.
No decorrer da campanha, Haddad fez referência a "uma política regional mais ativa, fortalecer o Mercosul e pensar em uma aliança estratégica com a Argentina".
De fato, o vice na chapa de Bolsonaro, general aposentado do exército Hamilton Mourão, se referiu depreciativamente aos países com os quais o Brasil tem mantido laços durante os anos do governo petista, o que deu um impulso muito forte à cooperação Sul-Sul e à aproximação à região e aos países emergentes.
"Bolsonaro vai tentar mostrar uma visão da política, da sociedade, da cultura e da economia, que é precisamente de uma direita muito mais conservadora como uma alternativa política possível não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina", supôs.
"Até agora, após a redemocratização da América Latina, nenhum candidato com esse perfil chegou à presidência, e me parece que Bolsonaro tentará internacionalizar sua liderança", explicou.