"A ideia de ir à Síria surgiu cerca de um ano atrás, quando me convidaram a visitar a exposição de Grekov de pintura militar em Moscou. Nas conversas surgiu o tema de minhas pinturas, criadas em operações e missões noutros países. Eu disse que queria conhecer a Rússia, o soldado russo e pintar a Síria", explicou Ferrer-Dalmau Nieto à Sputnik Mundo.
A conversa que começou na exposição de Grekov virou um pretexto para que o Ministério da Defesa russo o convidasse a visitar Aleppo em companhia das tropas russas. Foi uma chance de ver a guerra na Síria com seus próprios olhos.
Hoje na Praça Vermelha para um próximo projeto com um frio danado
FotoSegundo as palavras de pintor, não imaginando a situação na Síria, ele chegou lá com olhos e mente abertos, sem preconceitos que pudessem influir na visão do pintor. Provavelmente, essa consciência limpa e optimismo ajudaram-no a estabelecer relações amigáveis com os soldados russos, os quais ele recorda com cordialidade.
"Foi muito bonito. Compartilhei o dia-a-dia com um exército, para mim, muito parecido com o espanhol. Ninguém estava ciente de como era porque não tem havido estrangeiros que convivessem com o Exército russo em operações no dia a dia", disse o pintor espanhol.
Muitos soldados liam, que era estranho para o pintor. Ele disse que se sentia com os soldados russos como em casa, protegido e tranquilo, algo que ele sentiu antes apenas quando acompanhado por soldados espanhóis.
Ferrer-Dalmau Nieto se levantava com os soldados de manhã cedo, tomava o café da manhã com eles, ia aonde eles fossem, comia onde fosse possível. Fazia fila com sua bandeja junto com os soldados russos.
Os dez dias que este pintor de Barcelona de 54 anos passou na Síria serviram para que ele reproduzisse todos os horrores da luta que já dura sete anos: ruas devastadas, edifícios em ruinas, pessoas que a cada dia vencem o medo e "uma imagem humana" da missão do Exército russo.
O pintor espanhol espera mostrar tanto o caos, como aquela ajuda que presta o Exército russo à população civil, o que ele viu com seus próprios olhos.
Durante sua estadia na Síria, Ferrer-Dalmau Nieto usou o seu caderno não só para pintar, mas também para fazer anotações e esquemas para depois recordar em Madrid tudo o que chamou sua atenção.
Além disso, o pintor teve a possibilidade de tirar fotos de detalhes, de edifícios e de soldados para criar um repertório, um catálogo da guerra na Síria.
Embora o plano geral do quadro de cerca de dois metros já tivesse amadurecido, o pintor ainda tem que pôr em ordem e classificar todas as anotações, papéis, milhares de fotos e outras coisas que estão guardados em sua casa.
Ferrer-Dalmau Nieto esteve duas vezes no Afeganistão, uma vez com os espanhóis, outra — com militares da Geórgia e dos EUA. O pintor conseguiu visitar também o Líbano e o Mali com missões da União Europeia, OTAN e ONU.
O pintor afirma que todas as missões militares são iguais, apenas as pessoas se distinguem.
"Quero que a gente, quando passem anos, diga olhando para o meu quadro: ‘Olha, Aleppo era assim 100 anos atrás. Agora é assim. Quero que fique esse conhecimento. É um documento histórico. Quero que digam: ‘Olha, essa rua que pintou Ferrer-Dalmau, que esteve lá, que foi vê-la, que esteve com os soldados quando ainda estavam em guerra. Quero que seja um documento histórico", disse o pintor espanhol.
Segundo as suas avaliações, levará pelo menos oito semanas para acabar a sua obra, mas antes disso ele ainda deve arrumar todo o material. Então, o mundo verá a obra depois de maio de 2019. Ferrer-Dalmau tem a intenção que o quadro fique na Rússia, sendo "uma parte da sua história". O pintor gostaria que a obra percorresse outros países antes de ficar definitivamente em Moscou.