A incerteza política e a imprevisibilidade eleitoral do Brasil em 2018 afugentaram investidores e afetaram negativamente a economia nacional. Dados da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) indicam que o país caiu, no primeiro semestre, do 6º para o 9º lugar entre os principais destinos de investimentos. De janeiro a junho, foram enviados para o Brasil US$ 25,5 bilhões, uma queda de 22% ante os US$ 32,6 bilhões do mesmo período de 2017. Será o próximo presidente capaz de reverter esse quadro?
Em editorial publicado pelo China Daily, principal jornal estatal do país asiático, nesta semana, os chineses avisaram que criticar Pequim "pode servir para algum objetivo político específico, mas o custo econômico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair de sua pior recessão da história". De acordo a publicação, o Brasil teria mais a perder do que ganhar se decidir adotar uma retórica agressiva como a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsável por iniciar uma guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais.
Apesar das polêmicas declarações de Jair Bolsonaro no que diz respeito à política externa brasileira, Vinicius Vieira acredita que o novo Brasil tende a ser pragmático nas suas relações econômicas internacionais. Ainda assim, ele alerta que, no caso de uma redução no fluxo de investimentos chineses devido a desentendimentos provocados pelo presidente eleito no Brasil, dificilmente os Estados Unidos, país indicado por Bolsonaro como, possivelmente, principal parceiro brasileiro, poderiam preencher o espaço deixado por Pequim.
"O próprio [Donald] Trump fala da necessidade de investimentos na infraestrutura do país. Então, talvez, a prioridade seja o estímulo e não investimentos em aliados, mas o investimento interno", disse o acadêmico em entrevista à Sputnik Brasil, destacando a atração provocada pelas altas taxas de juros dos EUA e a necessidade de o Brasil aprovar uma reforma da Previdência alinhada com o mercado, além de privatizações e uma abertura da economia.
Reforma da Previdência de Bolsonaro pode ser mais ‘radical' que a de Temer, diz jornal - https://t.co/zOajRVQsi9pic.twitter.com/V2h4okOn2g
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) 1 de novembro de 2018
Para escapar da dependência em relação a China e Estados Unidos, seria interessante, conforme sublinha o professor, diversificar as parcerias brasileiras ao redor do globo no próximo governo. No entanto, para ele, a chance de isso acontecer na administração de Jair Bolsonaro seria insignificante.
"Acho que aí nem é uma questão de política econômica, é uma questão de política externa. Bolsonaro sempre fez uma crítica muito forte àquilo que seria uma política externa ideológica", explicou. "Não sou contra e acho razoável reforçar os laços com as ditas democracias ocidentais. De fato, elas ainda têm capital a ser investido no exterior. Mas o fato é que a fronteira do capitalismo global está se movendo para onde? Para o Oriente, para o Sul global."