EUA contra China: qual é o verdadeiro 'pomo da discórdia' entre as duas potências?

Enquanto a China continua considerando a ilha de Taiwan como parte do seu território e os EUA vêem a soberania da ilha como uma peça-chave do seu jogo geopolítico na Ásia, a margem de erro está se tornando cada vez mais estreita. Pelo menos é isso que opinam os autores do artigo recém-publicado no jornal The National Interest.
Sputnik

Em um momento em que a guerra comercial entre os EUA e a China não mostra sinais de diminuição, bem como as tensões entre as duas potências no mar do Sul da China, eventos como o recente diálogo diplomático e de segurança entre Pequim e Washington se tornam muito importantes.

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Em particular, em 9 de novembro, o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, e o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, realizaram o segundo Diálogo Diplomático e de Segurança entre China e EUA, em Washington. Além do ministro e do secretário, estiveram presentes o diretor de Relações Externas do Partido Comunista chinês, Yang Jiechi, e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

No final da reunião, altos funcionários chineses disseram que "a situação no mar do Sul da China está caminhando para a estabilidade", enquanto Mattis e Pompeo reafirmaram que "os Estados Unidos não estão realizando uma guerra fria ou política de contenção da China".

Deixando de lado as declarações conciliadoras para as câmeras, a verdade é que as relações entre os EUA e a China estão passando por seu pior momento após a Guerra Fria, destaca Daniel R. DePetris, colunista do The National Interest. Tanto os golpes econômicos mútuos quanto as disputas sobre o mar do Sul da China têm sido uma constante nos últimos anos. Mas o real pomo da discórdia entre as duas potências sempre foi e ainda é a ilha de Taiwan.

O pomo da discórdia

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As diferenças de pontos de vista sobre Taiwan agravaram muito as tensões entre Washington e Pequim, mesmo antes do estabelecimento de relações diplomáticas entre ambos os países. Durante décadas, as autoridades norte-americanas e chinesas sempre se regeram pelo princípio de "concordamos em discordar".

Houve tentativas de mudar a situação em 1982, quando as partes decidiram adotar uma abordagem legal do "status quo" existente: os Estados Unidos passaram a reconhecer as reivindicações territoriais da China na ilha e os chineses reconhecem a política dos EUA de venda de armas a Taiwan.

No entanto, a administração Trump tomou o que poderia ser descrito como uma das posições mais agressivas relativamente a Taiwan da era pós-Guerra Fria, diz o autor. Mesmo antes de ter assumido formalmente o cargo, o atual presidente teve a primeira conversa telefônica com o chefe de Estado de Taiwan em quatro décadas. Esse contato irritou o governo chinês e sugeriu que a nova Casa Branca não iria mais seguir a política "de uma só China".

Para piorar a situação, o contato foi seguido por uma venda multimilionária de armas a Taiwan, pela Lei de Viagens a Taiwan de 2017 e pela Lei de Autorização da Defesa Nacional de 2018, que reafirmaram os laços militares entre Washington e a ilha e abriram o acesso mútuo dos navios das Marinhas aos portos dos dois países.

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O estreito de Taiwan que divide a ilha e o continente chinês também viu as tensões crescerem. Em abril, o Exército Popular de Libertação da China participou de manobras com fogo real no estreito, o que não é raro, mas aconteceu apenas um mês depois de o presidente chinês, Xi Jinping, ter declarado ao Congresso Nacional do Povo que a China continuará firme quanto às tentativas de desafiar a sua soberania: "Nem uma polegada de território da grande pátria pode ser separada da China", disse ele.

Embora ninguém antecipe um confronto entre as Marinhas chinesa e estadunidense nas águas do estreito de Taiwan, indica o colunista, a concorrência estratégica que agora domina as relações entre as duas potências — desde o comércio, propriedade intelectual, segurança cibernética até à modernização militar — provoca grandes preocupações quanto à estabilidade. Ademais, aumenta o risco de que uma provocação militar deliberada ou uma falta de comunicação levem a uma crise internacional entre as duas maiores economias do mundo, que possuem os maiores orçamentos militares do planeta.

Ora, uma vez que nenhum dos lados mostra sinais de mudar sua posição, a margem de erro fica perigosamente mais estreita, conclui o colunista do jornal.

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