Iniciada em 2014, sob o comando de Sérgio Moro, a Operação Lava Jato passou a revelar um megaesquema de desvios e superfaturamentos na maior estatal do país, a Petrobras, e serviu de inspiração para outras operações deflagradas no país que colocaram atrás das grades alguns dos principais empresários e dos políticos do Brasil.
No entanto, o excesso de delações premiadas e prisões provisórias foi alvo de críticas e questionamentos por juristas e políticos que acusaram Sérgio Moro de tomar decisões políticas no desenrolar da Operação Lava Jato.
O juiz também foi criticado por comparecer em eventos e aparecer em fotografias ao lado de políticos investigados.
Jamais entraria para política, mas entrou
Apesar de ter dito em 2016 que "jamais entraria para a política" e que "é um homem de Justiça e não um homem de política", Moro entrou oficialmente para a política dois anos depois das declarações ao ser nomeado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro como o ministro da Justiça e Segurança Pública do seu governo.
Moro promete colocar em prática uma agenda nacional de combate à corrupção e de combate ao crime organizado.
"O grande motivador dessa aceitação do convite foi a oportunidade de ir a Brasília numa posição de poder elevada de ministro da Justiça e poder implementar com essa posição uma agenda anticorrupção e uma agenda anticrime organizado que não se encontram ao alcance de um juiz de Curitiba, mas podem estar no alcance de um ministro em Brasília", disse Moro em uma entrevista exclusiva concedida ao programa Fantástico, da Rede Globo.
Mesmo entrando para o Ministério da Justiça, Moro continua não se definindo como político.
"Eu sou uma pessoa que, na minha perspectiva, eu estou indo assumir um cargo predominantemente técnico", afirmou na mesma entrevista.
A nomeação de Moro foi questionada inclusive pela Conselho Nacional de Justiça. O órgão abriu uma investigação no último dia 6
O fim ou fortalecimento da Lava Jato?
É inegável que exista uma ligação quase que umbilical entre Sérgio Moro e a Operação Lava Jato.
Fã da Operação Mãos Limpas, investigação italiana nos anos 90 que revelou esquemas de propinas que envolviam políticos e empresas, Moro também é um dos maiores especialistas do país em lavagem de dinheiro e colaboração premiada.
Para Geraldo Tadeu Monteiro, cientista político e professor da UERJ, Moro vai trazer uma agenda nacional de combate à corrupção.
"Na medida em que ele é alçado à posição de ministro da Justiça ele vai levar essa experiência ao nível político, na tentativa de implementar políticas de prevenção à corrupção, no combate mais efetivo ao crime organizado, no combate a lavagem de dinheiro, enfim, a corrupção em geral. Acho que ele vai ter muito mais instrumentos, ele não vai depender de outros órgãos, ele vai poder tomar essa iniciativa", afirmou.
Já o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), vice-líder do partido Câmara dos Deputados, citou episódios controversos da Operação Lava Jato como a condução coercitiva de Lula em 2016, vazamento de informações e diálogos ilegais e o vazamento de trecho da delação premiada de Antônio Palocci durante a campanha eleitoral para defender a parcialidade do juiz.
"Mostram que um dos objetivos centrais do juiz Sérgio Moro e de outros setores da PF e do Ministério Público era garantir a vitória de alguém ou com o perfil de Bolsonaro. A confirmação de Sergio Moro como ministro de Bolsonaro desnuda completamente o caráter de engajamento político e partidário de Sérgio Moro durante essas investigações da Lava Jato", argumentou.
Geraldo Tadeu Monteiro acredita que a Operação Lava Jato tem data de validade e que isso faz com que a ida de Moro apresente uma agenda permanente de implementação de medidas de combate ao crime organizado.
O deputado Henrique Fontana acredita que Moro irá instrumentalizar a Polícia Federal para obter vantagens políticas.
"Eu prevejo um cenário, pelas características de Moro, que ele vai instrumentalizar a Polícia Federal como ele instrumentalizou a sua função de juiz para obter dividendos políticos de acordo com o conjunto de ideias que ele defende", disse.
Ao que tudo indica, o Ministério será apenas o primeiro cargo de Sérgio Moro em Brasília. Nos bastidores já o colocam como possível presidenciável nas eleições de 2022, mas a hipótese mais provável é que ele assuma uma das cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos anos quando o ministro Celso de Mello e Marco Aurélio Mello se aposentarem.