Arma que não vingou: eis por que URSS desistiu da bomba de nêutrons

No fim dos anos 70 do século XX, os EUA e URSS procuravam desenvolver armas capazes de eliminar os soldados inimigos superando as proteções e blindagem. O analista militar Andrei Kots indica as características únicas da bomba de nêutrons e por que acabou sendo abandonada.
Sputnik

Arma antipessoal

Há 40 anos, a União Soviética anunciou ter testado com sucesso uma bomba de nêutrons. A criação da munição experimental levou menos de um ano. A bomba representava uma carga nuclear comum de baixa potência mais um bloco com isótopos de berílio — uma fonte de nêutrons rápidos.

Na bomba, 80% da força explosiva se devia à ação dos nêutrons rápidos e apenas 20% aos outros componentes destrutivos.

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Os desenvolvedores acreditavam que esta característica faria da bomba uma arma eficiente contra pessoal inimigo, mesmo que este estivesse protegido em blindados e abrigos.

A blindagem de metal comum não consegue parar um fluxo de nêutrons rápidos, que penetram nos obstáculos melhor que os raios X ou raios gama. Assim, os militares esperavam que um ataque com bomba de nêutrons permitisse preservar a infraestrutura das cidades e os armamentos inimigos, ao contrário das munições nucleares comuns.

Porém, os testes mostraram que a arma de nêutrons era menos eficiente do que se pensava.

Uma bomba de um quiloton destruiu por completo os prédios no raio de um quilômetro. Além disso, expostos à radiação de nêutrons, a carcaça metálica dos edifícios e blindados viraram fontes de radioatividade induzida de longo efeito. isso frustrou de vez os planos de poder usar o equipamento inimigo após um ataque com tal munição. O alcance da bomba também acabou sendo baixo devido à forte dispersão de nêutrons na atmosfera.

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Outra razão para o desenvolvimento da bomba era o seu possível uso como elemento de defesa antimíssil. As ogivas nucleares dos mísseis tradicionais não serviam para interceptar mísseis balísticos intercontinentais (ISBM, na sigla em inglês) nas altas camadas da atmosfera. Quanto maior é a altitude, mais fraca é a onda de choque por causa do ar rarefeito, no espaço ela desaparece totalmente, enquanto a radiação é absorvida logo pela carcaça do próprio míssil. A única coisa capaz de atingir um ICBM nestas condições é um impulso eletromagnético.

Sem atmosfera, os elétrons se espalham tão longe quanto possível do ponto de vista físico. Ou seja, o uso de novas munições poderia ampliar o raio de alcance da ogiva de um míssil interceptor.

A bomba de nêutrons mais potente testada foi a ogiva W71 de cinco quilotons do míssil-interceptor americano LIM-49A Spartan. Durante seus testes foi revelada mais uma vantagem das munições de novo tipo: ao atingirem o projétil inimigo, os raios X da bomba aqueciam imediatamente o material de sua carcaça, fazendo-o evaporar e causando a explosão e destruição total da ogiva.

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No entanto, apesar de certas vantagens, a bomba de nêutrons nunca virou super arma, já que a URSS e os EUA em breve desenvolveram meios de defesa contra ela. Nomeadamente, criaram novos tipos de blindagem contendo bromo, que absorve bem os nêutrons, protegendo assim os veículos e as tripulações. Até hoje, a blindagem é feita sem elementos químicos que produzam radiação induzida quando sujeitos à emissão de nêutrons.

A produção em massa de munições de nêutrons continuou até os meados dos anos 1980 sem haver grandes estoques desta arma. Sabe-se que atualmente os EUA possuem o maior arsenal deste armamento. A Rússia, China, França e provavelmente a China dispõem de tecnologias para produzir bombas de nêutrons. No entanto, nas fontes abertas não há informações de que as nações mencionadas possuam estas ogivas em estoque.

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