Conheça história do piloto soviético que derrubou caça iraniano em 1973 pagando com a vida

Há precisamente 45 anos, o capitão soviético Gennady Eliseev efetuou o primeiro abalroamento com um avião supersônico na história de aviação e sacrificou sua vida para eliminar uma aeronave espiã iraniana. Um colunista da Sputnik relembra a retrospectiva dos acontecimentos daquele dia.
Sputnik

Em um artigo especial para a agência, o jornalista Nikolai Protopopov conta como foi a façanha efetuada pelo piloto soviético com o inimigo voando à velocidade de Mach 1,4 (1,4 vezes maior que a do som) em 28 de novembro de 1973.

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O incidente aconteceu no espaço aéreo sobre a fronteira soviético-iraniana, na região do vale de Mugan, que era considerada como bem vulnerável do ponto de vista de defesa antiaérea e vantajosa para espiar o país no seu território. Frequentemente, os aviões espiões estrangeiros conseguiam efetuar missões de reconhecimento e voltar para o Irã sem quaisquer consequências devido às peculiaridades dessa região fronteiriça.

Naquele dia 28 de novembro, o sistema de defesa antiaérea terrestre detectou mais uma violação da fronteira. O capitão da Força Aérea da URSS Gennady Eliseev, de 35 anos, partiu para a missão de intercepção de uma aeronave não identificada dirigindo um aparelho MiG-21SM.

O avião invasor acabou sendo um RF-4C Phantom iraniano, importado dos EUA. Na época, essa versão de reconhecimento do mais conhecido caça do mundo ocidental estava praticamente recheada de equipamento de espionagem da mais alta qualidade. A aeronave era capaz de fotografar tanto de dia quanto de noite, em variadas altitudes, tinha um escâner infravermelho e um radar, bem como quatro mísseis guiados ar-ar.

Vale ressaltar que na época o relacionamento entre os EUA e o Irã era muito diferente do atual. Após o golpe de Estado que ocorreu no país em 1953, quando um governo pró-americano chegou ao poder no Irã, Washington e Teerã viveram um período de aproximação extrema. Deste modo, o Irã era um suporte norte-americano no Oriente Médio, bem como um fornecedor confiável de petróleo. Os EUA, por sua vez, ajudavam Teerã com armamentos, especialistas militares e os equipamentos necessários.

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Pelas razões mencionadas acima, o Irã, que tinha uma fronteira com a URSS, também era bem útil para Washington por poder realizar espionagem para os serviços secretos estadunidenses. Um dos objetivos do então projeto Gene Escuro (Dark Gen), elaborado pela CIA, era detectar os pontos fracos da defesa antiaérea russa e analisar suas capacidades em caso de uma invasão hipotética.

Naquele dia 28 de novembro, 45 anos atrás, o Phantom iraniano estava efetuando precisamente uma das tarefas do respectivo projeto. Além do piloto iraniano, no cockpit também estava um coronel norte-americano que, segundo a versão de cobertura, estaria ensinando um cadete iraniano a dirigir o novo tipo de aeronave, enquanto sua presença no espaço aéreo soviético teria sido um erro devido à falta de experiência do jovem piloto.

Derrubar a qualquer preço

O caça soviético atingiu o avião intruso quanto este já estava saindo do espaço aéreo soviético e tinha uma velocidade de aproximadamente Mach 1,4. O capitão Eliseev decidiu abrir fogo para abater, pois se tratava de um avião militar e não de transporte, disparando dois mísseis ar-ar contra o inimigo. Este, porém, conseguiu evitar os mísseis soltando todo seu arsenal de contramedidas infravermelhas, na sequência do que os mísseis passaram a algumas dezenas de metros do alvo. Até hoje não se sabe ao certo por que o piloto soviético não usou o canhão da aeronave: provavelmente ele teria travado após a primeira descarga.

Ao mesmo tempo, o piloto soviético não podia simplesmente deixar o inimigo fugir, especialmente após receber a ordem de "derrubar o avião a qualquer preço". Foi naquele momento que Eliseev decidiu usar o "último argumento" no combate aéreo, isto é, o abalroamento. A tentativa de cortar a cauda da aeronave inimiga com a asa acabou sendo uma colisão dura, o que fez o avião iraniano mergulhar descontrolado.

Já para o MiG-21SM a colisão resultou em sua destruição no ar. O piloto não teve tempo para se catapultar e, passados alguns dias, recebeu postumamente o título de Herói da União Soviética.

A tripulação do Phantom conseguiu sobreviver, foi detida pela guarda fronteiriça soviética e, passadas duas semanas após o incidente, foi devolvida ao Irã em troca dos dados de um satélite soviético que havia caído no território iraniano.

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