Análise: Poroshenko está fracassando em jogar cartada do 'conflito com Rússia'

Segundo o presidente ucraniano, o seu país enfrenta a ameaça de uma "guerra em grande escala" com a Rússia. Cientista político russo acredita que Poroshenko está tentando, desta forma, aumentar sua popularidade.
Sputnik

"Eu não quero que ninguém pense que isto é uma brincadeira. O país está sob a ameaça de uma guerra em grande escala com a Federação da Rússia", disse Poroshenko em entrevista aos canais de televisão ucranianos na terça-feira (27).

O cientista político russo Vyacheslav Smirnov afirmou ao serviço russo da Rádio Sputnik que, segundo ele, Poroshenko está desta forma tentando melhorar sua popularidade.

"A declaração de Poroshenko atende às expectativas daquela parte dos eleitores na Ucrânia que agora estão em profunda paranoia, acreditando que as tropas russas podem atacar a Ucrânia", disse o cientista russo.

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Segundo Smirnov, os ucranianos acreditam que apenas boas relações com os Estados Unidos e o fortalecimento da capacidade de defesa por meio de uma base americana podem salvar a Ucrânia da perda da independência. Uma pequena parte dos cidadãos da Ucrânia, cerca 5%, compartilha essas convicções nacionalistas e, ao mesmo tempo, expressa sentimentos de pânico.

"Poroshenko tem uma popularidade muito baixa. Se as eleições se realizarem, muito provavelmente, ele não irá nem chegar no segundo turno, então agora ele precisa de jogar a cartada do conflito com a Rússia e mostrar de todas as formas possíveis que os EUA o apoiam", afirmou o especialista.

De acordo com o cientista político, Poroshenko diz que só ele pode salvar o país da "agressão russa". Mas ele está fracassando com isso, porque os americanos adotaram uma atitude de esperar para ver — eles também entendem que a popularidade do presidente ucraniano é extremamente baixa.

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Segundo Poroshenko, tal ameaça de guerra seria supostamente confirmada por dados da inteligência, segundo os quais equipamentos militares russos, incluindo tanques, estão concentrados perto das fronteiras ucranianas.

A ameaça de um ataque da Rússia à Ucrânia só existe na imaginação de Pyotr Poroshenko, acrescentou outro especialista militar russo ao serviço russo da Rádio Sputnik, Igor Korotchenko. O fato de um agrupamento do Distrito Militar do Sul e da Frota do Mar Negro estar presente no sul da Rússia apenas mostra que a Federação Russa está cuidando de proteger suas fronteiras.

Segundo Korotchenko, hoje é possível qualquer provocação armada contra a Rússia e, particularmente, contra a Crimeia por parte da Ucrânia. É por isso que os sistemas de mísseis antiaéreos S-400 foram implantados na Crimeia para segurança da ponte de Kerch e das cidades da península.

"Os fracassos na construção do Estado ucraniano e a difícil situação econômica forçam Poroshenko a recorrer à dura retórica anti-russa para distrair os cidadãos de seu país das enormes dificuldades que estão enfrentando", disse o especialista militar.

Não tem como fugir de problemas, se escondendo atrás de lei marcial
Nesta segunda-feira (26), após o incidente com navios ucranianos no estreito de Kerch, a Suprema Rada (parlamento ucraniano) aprovou a imposição da lei marcial por um prazo de 30 dias, abrangendo diferentes partes do país, decisão que já havia sido apoiada pelo presidente Pyotr Poroshenko.

Em 25 de novembro três navios da Marinha ucraniana, Berdyansk, Nikopol e Yany Kapu, violando os artigos 19 e 21 da Convenção da ONU sobre o direito marítimo, cruzaram a fronteira da Rússia. Os navios realizaram manobras perigosas durante várias horas sem reagir às exigências das embarcações russas que os acompanhavam.

Foi tomada a decisão de usar armas. Os navios ucranianos foram detidos. Durante o incidente, três militares ucranianos ficaram levemente feridos. Eles receberam assistência médica e não correm risco de vida. A Rússia abriu um processo criminal por violação da fronteira.

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