Culpa pela fuga de latino-americanos da 'miséria e horrores' é dos EUA, diz Chomsky

Enquanto o presidente estadunidense Donald Trump tolera o uso de gás lacrimogêneo contra migrantes na fronteira mexicana, o linguista e filósofo Noam Chomsky disse que os ex-presidentes dos EUA são aqueles que tornaram as condições tão ruins na América Latina que obrigam as pessoas a fugir.
Sputnik

Falando ao programa Democracy Now, Chomsky culpou Washington por tornar as coisas terríveis o suficiente para que os moradores de certos países latino-americanos sintam que não têm outra escolha senão tentar partir para uma vida melhor – boa parte das vezes rumo aos EUA.

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O renomado linguista e professor, que completará 90 anos no próximo mês, observou que a maior parte dos migrantes na caravana é de Honduras — e há uma razão para isso. Ele explicou que, em 2009, um golpe militar derrubou um "presidente levemente reformista" em Honduras e o governo de Barack Obama se recusou a condenar a medida.

"Uma eleição fraudulenta ocorreu sob a junta militar — mais uma vez, duramente condenada em todo o hemisfério, na maior parte do mundo, mas não nos Estados Unidos. O governo Obama elogiou Honduras por realizar uma eleição, indo em direção à democracia e assim por diante. Agora as pessoas estão fugindo da miséria e dos horrores pelos quais somos responsáveis", declarou Chomsky.

O filósofo de 89 anos acrescentou que os imigrantes da Guatemala e El Salvador também têm motivos para fugir. Esses países, juntamente com Honduras, "estiveram sob severa dominação norte-americana, muito atrás, mas principalmente desde os anos 80".

Ele prosseguiu explicando que há uma "incrível charada" acontecendo — "pessoas pobres e miseráveis" estão fugindo do terror e da repressão infligidos pelos EUA, "e em reação eles [governantes estadunidenses] estão enviando milhares de soldados para a fronteira".

Chomsky afirmou que o governo Trump tem uma "notável campanha de relações públicas", que assusta grande parte dos EUA em acreditar que está à beira de uma invasão de terroristas do Oriente Médio que entraram na caravana.

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A coisa toda, ele diz, é uma reminiscência de um movimento feito pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, que usou uma retórica medonha em meados da década de 1980, quando procurava obter apoio para guerrilhas que combatiam o governo nicaraguense.

Mais de 7.000 migrantes estão atualmente esperando cruzar a América. Quase 6.000 desses estão sendo alojados em um complexo esportivo em Tijuana, no México. Enquanto isso, cerca de 1.000 imigrantes tentaram romper a cerca próxima a Tijuana no domingo, depois que a passagem da fronteira foi temporariamente fechada. Agentes de patrulha de fronteira usaram gás lacrimogêneo, um movimento que Trump apoiou.

Era uma "forma muito pequena do próprio gás lacrimogêneo", disse o presidente dos Estados Unidos durante uma manifestação no Mississippi, acrescentando que seu uso é "muito seguro".

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