Para ele, a decisão saudita é uma "resposta natural e esperada" à postura de Bolsonaro em relação à capital de Israel. O presidente pretende seguir os passos dos Estados Unidos e transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, cidade que árabes e judeus reclamam como sua capital.
Antes da posse como presidente de Bolsonaro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, encontrou-se com o político do PSL no Rio de Janeiro. Na ocasião, Netanyahu disse que a mudança era apenas uma questão de data.
Zahredinne diz que a postura de Bolsonaro em relação a Jerusalém "beira o absurdo" e "com certeza" trará impactos no relacionamento com o Oriente Médio.
"Como Bolsonaro, antes mesmo de assumir, promete a um primeiro-ministro que vai mudar uma capital que é garantida a palestinos e israelenses pelo direito internacional? Como isso não vai repercutir negativamente? A política internacional é muito realista, muito dura. O jogo é jogado de uma maneira que principiantes não se saem bem."
Apesar da Associação Brasileira de Proteína Animal ter publicado uma nota em que diz a ação foi tomada por "critérios técnicos", o caráter político da decisão saudita foi confirmado pelo ex-secretário-geral da Liga Árabe. Em entrevista ao Valor, Amre Moussa disse a transferência da embaixada em Israel "fere a imagem internacional do Brasil" e que o governo brasileiro não deveria "alienar" 300 milhões de pessoas.
"O povo árabe é um amigo natural do Brasil. Não percam a amizade do povo árabe", disse Moussa ao Valor.
Para o professor da PUC-MG entrevistado pela Sputnik Brasil, o verniz técnico foi utilizado para justificar a medida por uma questão de diplomacia — e tem o objetivo de fazer Brasília repensar sua postura e atuar como espécie de "aviso". Ele ressalta que a medida saudita pode ser seguida por países do próximos a Riad, como Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito.
A própria ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina, já afirmou que a possível mudança da embaixada deixa o setor agrícola "preocupado".
A bancada do agronegócio é próxima de Bolsonaro e declarou apoio ao político, por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), antes do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Á época, Tereza Cristina era presidente da entidade.
Durante a campanha presidencial, Bolsonaro prometeu retirar a embaixada palestina do Brasil.