Como China se esquiva de crise há 40 anos

Os boatos sobre a economia e as dívidas acumuladas pelos governos provinciais chineses são exagerados.
Sputnik

A China é o único país que não passou por uma crise econômica nos últimos 40 anos e não será dessa vez que passará por uma, afirma o ex-vice-presidente do Banco Mundial, Lin Yifu.

Analistas comentam o milagre econômico chinês há mais de uma década. A transformação gradual da economia planificada a um mercado, a conservação do sistema político e as reformas fazem parte do "enfoque gradualista", comenta Lin Yifu, que é diretor do Instituto da Nova Economia Estrutural da Universidade de Pequim.

Segundo especialistas, as reformas na China foram concluídas com êxito. Comparando com a Rússia, onde as mudanças e a liberalização da economia foram realizadas imediatamente após o término da União Soviética, os asiáticos realizaram a transformação econômica sem choques sociais.

"A vantagem das autoridades chinesas se concentra no fato de que elas compreendem bem a situação de sua economia. Rastreiam mensalmente todas as tendências para entender o real estado das coisas. A China renova os dados dinâmicos a cada trimestre, cada semestre e cada ano", enfatizou Lin Yifu à Sputnik.

A tática permite ao governo tomar medidas de emergência durante mudanças negativas, como ocorreu durante o acúmulo de dívida dos governos provinciais.

"Quando as autoridades chinesas anunciaram uma campanha de combate contra o efeito de alavanca, eles aprovaram uma reforma estrutural que previa liquidar as capacidades produtivas exorbitantes, reduzir o acúmulo de mercadorias, diminuir custos e realizar a desalavancagem financeira", cita Lin Yifu.

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O processo de desalavancagem financeira implica a redução da carga de créditos contraídos pelos governos locais, durante esse processo é possível que ocorra os chamados "cisnes negros".

A lógica do cisne negro ressalta a importância de ter em mente que o improvável e até mesmo o impossível pode acontecer. Além disso, a teoria possui três características, como os eventos imprevisíveis, a possibilidade de causar um choque positivo ou negativo e, após a ocorrência, surgem diferentes explicações que procuram denotá-los como eventos previsíveis, contudo, não são.

"Antes, os governos provinciais podiam obter créditos através de plataformas especiais de inversão. Atualmente, é permitido emitir próprios títulos de construção e trocá-los diretamente por empréstimos nos bancos", explicou Lin Yifu.

O especialista também afirma que os títulos de construção são duradouros, enquanto que os créditos são breves, dessa maneira, os governos provinciais são obrigados a refinanciar frequentemente suas dívidas. Entretanto, "as autoridades centrais da China observam atentamente a situação real na economia", além disso, se os primeiros sinais de crise surgem em alguma parte, o governo neutraliza todos eles. Por esta razão, o gigante asiático não enfrenta uma crise há 40 anos.

Segundo economistas ocidentais, durante a crise de 2008, Pequim se dedicou a inflar sua economia com créditos, onde a maior carga de crédito recaiu sobre os governos provinciais, responsáveis pela execução de projetos sociais e de infraestrutura e pela notificação ao centro sobre o crescimento das economias locais.

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Além disso, os economistas ocidentais acreditam que o volume de crédito da China seja exorbitante, fazendo com que diversos governos provinciais não consigam fazer frente à sua dívida sem constar o acréscimo do valor de crédito.

Lin Yifu acredita que os economistas estejam exagerando e que o valor de crédito na China seja consideravelmente menor do que o crédito dos ocidentais. "As dividas contraídas pelas autoridades centrais e locais não superam conjuntamente os 60% do PIB. É um nível muito baixo segundo as normas mundiais. Com isso, ao centro é atribuído apenas 17% desta dívida", assegurou.

"Na China, os créditos são utilizados para investir em recursos de infraestrutura: estradas, ferrovias de alta velocidade, aeroportos e áreas urbanizadas. Ou seja, os investimentos estão assegurados por ativos que rendem benefícios. Além disso, estes investimentos estimulam o crescimento econômico", ao contrário do que ocorre no ocidente, onde os créditos são utilizados para satisfazer as necessidades sociais, como seguro social e auxílio desemprego, concluiu Lin Yifu.

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