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Análise: 'Não é interessante para o Brasil se envolver em campanha militar' na Venezuela

O Brasil voltou a dar sinais de que não vai apoiar nenhum tipo de intervenção militar para retirar Maduro do poder. Após nova rodada de discussões do Grupo de Lima, Mourão descartou a possibilidade e propôs novas eleições, postura condizente com a tradição da política externa brasileira na visão da doutora em Relações Internacionais, Raquel Rocha.
Sputnik

Falando a jornalistas logo após o evento, o vice-presidente Hamilton Mourão frisou que o Brasil apoia a transição pacífica de poder no país vizinho e pediu a realização de eleições convocadas pela Assembleia Nacional. Mourão também defendeu a proposição de alternativas para que Maduro e o círculo mais próximo do presidente abandonem a Venezuela.

"O Brasil vai buscar de todas as formas que não haja conflito. (…) Seria ruim trazer clima da guerra fria para dentro do continente, são os outros países, as grandes potências, que têm interesse na Venezuela", afirmou em referência ao apoio russo e chinês a Maduro.

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Comentando a entrevista do vice-presidente, Raquel diz que a postura é compatível com a política externa brasileira, defensora do não-uso da força e tradicionalmente com o papel de mediadora das relações internacionais. A internacionalista acredita também que a fala do vice-presidente é uma forma de responder as declarações de Nicolás Maduro em relação ao governo brasileiro. Nos últimos meses, o presidente venezuelano usou termos duros para se referir a Jair Bolsonaro, por vezes chamando-o de "Hitler".

"Por mais que as fronteiras tenham sido fechadas na última quinta com o Brasil, Maduro deixa muito claro que as desavenças — por assim dizer — não são com o Brasil de uma forma direta, mas sim com Guaidó, com a oposição, (…) com os Estados Unidos e agora, declarado de uma forma muito mais contundente, com a Colômbia", diz a especialista, referindo-se ao rompimento de relações diplomáticas e a expulsão de diplomatas colombianos da Venezuela. Bogotá decidiu não reconhecer a autoridade de Maduro para ordenar tal ato, já que não consideram o chavista o presidente legítimo do país.

Raquel argumenta ainda que, antes de considerar a possível intervenção militar americana no país, é necessário dar um passo atrás e reconhecer o quão impregnado de retórica estão as falas de Trump e Mike Pence sobre o tema. Para ela, a Venezuela não desempenha papel central na política externa norte-americana no mundo, atualmente dominada pela guerra comercial com a China, a desnuclearização da península coreana e do Irã e as relações com a Rússia.

"O que fica claro é que os Estados Unidos não querem a questão sendo levada ao Conselho de Segurança [da ONU] porque isso traria China e Rússia para a mesa de negociação. O Brasil, na verdade, está assumindo essa posição de mediador porque não é interessante para nós agora nos envolvermos em uma campanha militar".

Disputa de influência

Chamou atenção de internacionalistas e da imprensa que o vice-presidente brasileiro tenha sido a autoridade a comentar o desenrolar dos temas tratados no Grupo de Lima, ao invés do chanceler Ernesto Araújo. Para a especialista, este pode ser um indício de desconfiança quanto à capacidade do chanceler do Brasil em conduzir a crise, já que na última reunião do Grupo em janeiro, Araújo concordou em encerrar a cooperação militar com a Venezuela sem consultar as Forças Armadas do Brasil.

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O ato, recebido com surpresa pelos militares no governo, foi duramente criticado por ter prejudicado atividades de inteligência e troca de informações entre Brasília e Caracas.

"Mourão, por uma questão hierárquica, vai ter poder decisório maior. Ele falar um pouco mais alto que o Ernesto até porque o próprio Bolsonaro deu o aval e o autorizou a acompanhar a comitiva para o Grupo de Lima. (…) Tem uma luta de poder interna, doméstica bem significativa que ainda vai perdurar bastante na política externa", sinalizou Raquel.

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