Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro se queixou no Twitter que o Brasil investe muito em educação mas não consegue obter resultados satisfatórios. Segundo ele, as prioridades a serem ensinadas e a gestão dos recursos estariam erradas. E, para atacar esse problema, seria necessário criar uma grande operação investigativa, envolvendo não só o Ministério da Educação, mas também o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, a Advocacia e a Controladoria Geral da União.
As declarações do chefe de Estado geraram reações diversas nas redes e na imprensa. Uns concordaram, outros criticaram e outros o acusaram de estar distorcendo fatos e dados. Mas praticamente todos reconheceram que, realmente, o país tem sérios problemas no campo da educação.
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), ao qual Bolsonaro se referiu, o desempenho dos alunos brasileiros está bem abaixo da média dos alunos de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) — que coordena o programa — em ciências (401 pontos, comparados à média de 493 pontos), leitura (407 pontos, comparados à média de 493 pontos) e matemática (377 pontos, comparados à média de 490 pontos), embora o país invista mais do que a média dos Estados do bloco em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), 5% contra 4,6%. Mas a culpa disso estaria nas "prioridades a serem ensinadas", como disse o presidente?
"Por exemplo, o Brasil gasta 3.740 dólares por estudante primário em comparação com uma média da OCDE de 8.631 dólares. Em contraste, para estudantes universitários, o montante é de 14.260 dólares, quase o mesmo que a média da OCDE (15.670 dólares). Isso, a propósito, faz parte do problema. Para as crianças pequenas, o Brasil investe pouco, mas as que sobrevivem à escola (geralmente estudantes de famílias mais ricas que se beneficiam de muitas aulas particulares) recebem muito dinheiro público para o ensino universitário", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.
Schleicher explica que, para países com baixos gastos por estudante, há uma relação razoável entre investimentos e pontuação no PISA. Mas ele reconhece que, para os investimentos que faz e pela carga horária que fornece, o Brasil tem um desempenho ruim. Ainda assim, segundo o especialista, é preciso destacar que os brasileiros têm melhorado o seu desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Alunos do início dos anos 2000 para cá, tanto no que tange ao aumento significativo na participação de jovens de 15 anos na escola quanto no que diz respeito à elevação da qualidade do aprendizado.
De acordo com Schleicher, os principais sistemas escolares selecionam e educam seu corpo docente com mais cuidado do que o Brasil. Eles melhoram o desempenho dos professores que estão sofrendo e estruturam os seus pagamentos para refletir padrões profissionais. Também fornecem um ambiente no qual os professores trabalham juntos para estruturar boas práticas e os incentivam a crescer em suas carreiras, ao mesmo tempo em que estabelecem metas ambiciosas, são claros sobre o que os alunos devem ser capazes de fazer e permitem que os professores descubram o que precisam ensinar a seus alunos.
"Eu acho que o estabelecimento do currículo comum no Brasil tem sido um bom passo nessa direção. Mas os melhores sistemas escolares também incentivam seus professores a serem inovadores, a melhorar seu próprio desempenho e o de seus colegas e a buscar um desenvolvimento profissional que leve a melhores práticas. E, muito importante, os sistemas escolares de alto desempenho fornecem educação de alta qualidade ao longo de todo o sistema, para que todos os alunos se beneficiem do ensino de excelência. Para conseguir isso, esses países atraem os diretores mais fortes para as escolas mais difíceis e os professores mais talentosos para as salas de aula mais desafiadoras. O Brasil ainda faz o contrário."