Em entrevista ao Jornal da Manhã, da rádio Jovem Pan, Ricupero declarou que o apoio do presidente estadunidense Donald Trump à entrada brasileira na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não representa ganhos ao país.
"A questão que se deve indagar é qual a vantagem de entrar na OCDE? Ela é uma entidade como outras, é um 'think tank'. Aqui no Brasil isso tem sido apresentado como grande ganho do país, mas não é verdade. Não acrescenta grande coisa", disse.
"Por exemplo, o México faz parte da OCDE há 15 anos e até o diretor-geral é um mexicano. Nem por isso cresceu mais que o Brasil, não atraiu mais investimentos do que o Brasil. Na verdade, nas questões de desenvolvimento o principal é o esforço interno. A entrada na OCDE vai requerer alteração de mais de 17 leis no Brasil. Nada disso é fácil. O Congresso brasileiro, como se sabe, é extremamente lento, é complicado na aprovação de medidas", acrescentou.
Ricupero avaliou ainda que, no âmbito da OCDE – entidade que reúne os países desenvolvidos e contribui, entre outras coisas, com um "selo de qualidade" para investimentos – "é um processo longo e o apoio americano é só parte do processo".
Mais grave ainda, de acordo com Ricupero, foi o indicativo feito por Trump sobre a possibilidade do Brasil ser o grande parceiro de Washington na área de segurança no continente, com uma oportunidade até mesmo de patrocínio para a entrada na OTAN.
"Não ganha nada e perde muito. Perde autonomia, aceita comprar sem nenhuma vantagem a agenda americana de segurança. É preciso lembrar qual é essa agenda americana, que fala da contenção da China e as hostilidades contra a Rússia e o Irã", opinou.
O ex-embaixador se mostrou preocupado com o fato do Brasil estar "comprando todos os inimigos americanos sem nenhuma vantagem".
"A China e o Irã são mercados importantes para os produtos brasileiros, e passamos a participar dessa campanha contra o fundamentalismo islâmico, que não nos dizia respeito […]. Qual é a ameaça que paira sobre o Brasil vinda da China, vinda da Rússia, vinda do Irã?", questionou.
Ricupero avaliou ainda que a política externa brasileira parece não ter foco, preocupando-se mais com "as posições americanas, prevalecem sobre qualquer ordem prática". De acordo com o ex-embaixador, o jantar concedido na embaixada brasileira com a presença de Steve Bannon e Olavo de Carvalho, e a visita à Agência Americana de Inteligência (CIA) só comprovam isso.