De acordo com o cientista político Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Brasilis, o governo Bolsonaro não tem nada a celebrar pela prisão de Temer, sobretudo em um momento de muitas incertezas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
Na opinião de Almeida, Temer – que foi várias vezes presidentes da Câmara antes de assumir o país, em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff – é bem visto junto aos deputados e que a sua detenção, embora não tão surpreendente, pode afetar a forma com que eles enxergam o atual governo.
"A prisão dá para os políticos uma certa visão de que eles estão desprotegidos pelo governo. O juiz Bretas e, quando era juiz, o [atual ministro da Justiça Sérgio] Moro também foi um dos mais atuantes quanto às prisões por escândalos de corrupção, então quem está no Congresso olha e pensa: 'olha, o ministro da Justiça é o Sérgio Moro, o Bretas está prendendo no Rio, eu vou dar uma parada nas conversas que eu estava tendo com o governo para me certificar de que eu não corra risco, enfim, que outras figuras do sistema não corram risco'. Então isso é muito ruim para o funcionamento normal da política no Brasil", explicou.
Quem também foi preso nesta quinta-feira foi outro alto dirigente do MDB, o ex-ministro Moreira Franco. Para Almeida, não se deve esquecer que, ao lado de Temer e Franco, outro ex-ministro – Eliseu Padilha – era uma peça fundamental na articulação junto ao Congresso, e o atual governo Bolsonaro terá de apresentar respostas aos parlamentares atuais.
"Essa trinca é uma trinca que tem muita conversa com deputados. Quer dizer, acho que uma das mensagens que vão chegar aos deputados é que para apoiar o governo será preciso, em algum grau… acredito que eles vão ser libertados por algum habeas corpus, mas dali para frente da parte do governo será preciso algum grau de confiabilidade de que o governo irá agir, fará gestões no sentido de impedir novos fatos dessa natureza", avaliou.
O diretor do Instituto Brasilis ainda criticou a atual postura que se vê no combate à corrupção no Brasil, que privilegia, em sua visão, a velocidade ante a sustentabilidade.
"O que nós estamos vendo com esse certo voluntarismo é o sistema político estar todo em risco, inclusive deixando de tomar decisões importantes para o funcionamento da sociedade. Acredito que a Reforma da Previdência agora entra em uma zona de perigo muito grande, muito grave, e a gente fica se perguntando: a corrupção acabou por conta disso ou vai acabar por conta disso tudo?", questionou.
"As obras no Brasil estão paradas, estamos em uma recessão difícil de sairmos dela, talvez uma eventual não aprovação de qualquer que seja a Reforma da Previdência vai contribuir para o país ficar nesta péssima situação em que se encontra, então a gente precisa pensar os benefícios e os malefícios daquelas atitudes. Quer dizer, o combate à corrupção poderia e deveria estar sendo feito, mas de uma maneira um pouco mais lenta, gradual, e incremental", concluiu Almeida.
Denúncias e investigações contra Temer
O ex-presidente Michel Temer responde a um total de 10 inquéritos – cinco deles estavam no Supremo Tribunal Federal (STF) e foram remetidos à primeira instância, diante do fim do foro privilegiado do emedebista.
O caso que está com o juiz Marcelo Bretas trata das denúncias do delator José Antunes Sobrinho, dono da Engevix, que disse à Polícia Federal que pagou R$ 1 milhão em propina, a pedido do coronel João Baptista Lima Filho (amigo de Temer), do ex-ministro Moreira Franco e com o conhecimento do presidente Michel Temer.
Em nota, o Ministério Público Federal (MPF) informou que foram identificados a prática de crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação através de contratos fictícios da Engevix. O pedido de prisão preventiva se fez necessário, segundo o MPF, porque os crimes continuavam em "plena operação".
Em nota, o MDB lamentou as detenções e disse esperar que a presunção de inocência e liberdade de defesa sejam respeitadas.
"O MDB lamenta a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa", diz o texto.
Michel Temer foi o 37º presidente da República do Brasil. Ele assumiu o cargo em 31 de agosto de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, e ficou encerrou o mandato em dezembro do ano passado. Ao longo do mandato, conseguiu barrar duas denúncias de corrupção na Câmara.