Brasil anunciou abertura de um escritório de representação comercial em Jerusalém neste domingo (31). A medida é um recuo da promessa de transferir a embaixada brasileira para a cidade disputada, que foi uma das principais promessas de campanha de Jair Bolsonaro.
Para o professor, Benjamin Netanyahu não esperava uma declaração de Bolsonaro sobre a abertura da embaixada. No entanto, a medida não será bem recebida por palestinos, nem pelo mundo árabe.
"Os palestinos obviamente não gostaram do anúncio, porque representa um reconhecimento, por parte do Brasil, da importância de Jerusalém para Israel e é uma compensação pela não transferência da embaixada", explicou o pesquisador.
No entanto, para ele, o governo soube lidar bem com a questão, sem se comprometer na arena internacional.
"Acho que a diplomacia brasileira encontrou um meio termo razoável para, de alguma forma, colocar panos quentes na questão. Pelo menos até um futuro próximo", concluiu.
Já para Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais da FGV-SP, especialista em Política Exterior do Brasil, existia sim, embora baixa, uma certa expectativa pelo anúncio sobre abertura de embaixada em Jerusalém. O professor destacou que a abertura do escritório frustrou Israel, por um lado, e gerou irritação nos palestinos e do mundo árabe por outro. Ele argumentou que Netanyahu até pode tentar vender a abertura do escritório como uma vitória, mas precisará praticar muito sua retórica convencer seus apoiadores de que o escritório seria só "um passo" para a mudança da embaixada.
Casarões afirmou que o governo está dividido em um grupo mais pragmático, representado por militares e uma ala econômica, e um grupo mais ideológico, representado por evangélicos e políticos ligados os pensador Olavo de Carvalho e os filhos do presidente. Durante a viagem para EUA, o grupo ideológico teria prevalecido, levando em conta o teor dos acordos assinados com Trump. Já no caso da visita para Israel, o grupo dito pragmático teria vencido a batalha.
"O presidente Jair Bolsonaro, em sua declaração sobre a criação do escritório em Jerusalém, deixou muito claro que o autor dessa ideia tinha sido o general Augusto Heleno. Ao nomear o autor ele transfere um pedaço da responsabilidade da decisão pro grupo militar, e reconhece que nessa queda de braço interna os militares, nesse momento, ganharam a batalha", afirmou o professor.