70 anos da OTAN: será que aliança está se tornando obsoleta e enfrenta problemas graves?

O presidente dos EUA, Donald Trump, instou os países membros da OTAN na Europa a contribuírem mais para o orçamento de defesa da aliança. O professor Marcello Ferrada de Noli falou sobre a situação em torno da aliança a propósito do 70º aniversário da OTAN.
Sputnik

Respondendo à pergunta por que a aliança, criada durante a Guerra Fria, ainda existe, Marcello de Noli, editor-chefe da revista geopolítica online "The Indicter", sublinhou que a OTAN de hoje praticamente não tem nada a ver com seu propósito original. 

"Em vez disso, a OTAN hoje surge como um instrumento de expansão geopolítica, visando impulsionar as indústrias de defesa dos países ocidentais e promover ou proteger seus investimentos em todo o mundo", afirmou ele à Sputnik Internacional.

Para o analista, a OTAN conseguiu isso através de uma variedade de estratégias, por exemplo: através da sucessiva anexação de economias pequenas e dependentes — como a Macedônia agora, bem como através do aumento das exportações de armas, o que fortalece os principais atores da OTAN, como os EUA, Reino Unido, França e Alemanha. 

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Marcello Ferrada de Noli sublinhou que a venda de armas pelos países da OTAN, fomentando conflitos armados, é uma das principais razões das crescentes tensões geopolíticas que o mundo está vivendo agora. Além disso, “os maiores exportadores de armas da OTAN usam a instabilidade geopolítica que provocam para obter mais fundos do orçamento a nível interno, mais exportações de armas e, assim, o círculo vicioso continua”.

Segundo os dados do Instituto de Pesquisa da Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI), os EUA continuaram sendo o principal exportador de armas, a França aumentou 27% suas exportações de armamentos no período entre 2013 e 2017 em comparação com o período entre 2008 e 2012, enquanto a Alemanha permanece como o quarto maior exportador mundial. Para comparar, a Rússia, chamada de "agressor" pela OTAN, reduziu suas exportações de armas em 27% no mesmo período.

Comentando as declarações do presidente dos EUA Donald Trump sobre a "agressão russa", o analista lembrou que foram os países da OTAN que participaram de múltiplas intervenções militares desde o colapso da União Soviética. 

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"É importante esclarecer que se trata de intervenções não aprovadas pela ONU e muito menos legítimas do ponto de vista do direito internacional. Em outras palavras, o que a OTAN tem feito é a definição legal de 'agressão' em termos geopolíticos", opina ele.

Marcello Ferrada de Noli lembrou o conflito na Síria: enquanto a Rússia está lá legalmente, convidada por um governo legítimo, os EUA e a França estão lá ilegalmente, como forças de ocupação. 

"A situação por vezes apresenta episódios bastante 'surrealistas' – por exemplo, quando as autoridades americanas tentaram seriamente argumentar que seus militares estavam na Síria para expulsar as forças iranianas que se encontravam 'muito longe das fronteiras do Irã. Como se as forças dos EUA que ocupam ilegalmente o território sírio não estivessem fora das fronteiras dos EUA, e muito mais longe! Mais uma vez, os iranianos também foram convidados pelo governo sírio", explicou o especialista.

Quanto à pressão dos EUA sobre outros países da OTAN no que se refere ao aumento de gastos militares, Marcello Ferrada de Noli sublinhou que, para Trump, as discussões sobre a chamada "agressão russa" são necessárias para alcançar um melhor equilíbrio econômico, mais favorável para os próprios americanos. Trata-se, em primeiro lugar, do aumento da demanda pelo equipamento militar americano por parte de outros países da OTAN e crescimento da indústria de defesa, porque os EUA, como já foi mencionado acima, continuam sendo o maior exportador de armas. 

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Comentando as divergências dentro da aliança, o especialista sublinhou que estas começaram antes da chegada de Trump ao poder. Ele lembrou, por exemplo, que os países da OTAN abandonaram a cooperação no Afeganistão. Recordou igualmente o lançamento da iniciativa de um Exército único da UE, os desacordos em relação a sanções contra a Rússia e, sem dúvidas, o desacordo entre os vários países sobre o valor dos gastos militares.

O analista sublinhou que, no ano do seu 70º aniversário, a dinâmica da OTAN parece estar a diminuir, especialmente a tentativa de apresentar a Rússia como "agressor". 

"Os novos governos na Europa e, o que é mais importante, a nova visão política dos eleitores, vêm gradualmente mudando o padrão da última década. Surge uma tendência de preservar a paz e, espera-se, construir uma amizade entre os russos e o resto dos europeus", disse ele.

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