Visto como uma alternativa à polarização entre petistas e bolsonaristas no pleito do ano passado, o ex-ministro, ex-deputado, ex-governador, ex-prefeito, advogado e professor Ciro obteve pouco menos de 13% dos votos válidos no primeiro turno, durante o qual chegou a afirmar que não participaria mais de uma disputa pelo Palácio do Planalto caso fosse derrotado. Mas, após a confirmação da vitória de Jair Bolsonaro (PSL), a questão sobre uma possível candidatura daqui a quatro anos voltou a ficar em aberto, com o presidente do PDT, Carlos Lupi, chegando a garantir que Ciro será o candidato do partido na próxima eleição para a presidência do Brasil.
"Não sei nem se vou estar vivo em 2022. E o Brasil de 2022, pode acreditar, com a minha experiência, será um país profundamente diferente desse que nós temos hoje. Infelizmente, eu não estou vendo essa diferença como uma melhoria para a vida do povo. Há uma confusão, como eu já disse, muito grande, o governo é formado de lunáticos, gente muito incompetente, muito despreparada. Não há comprometimento nenhum com o interesse do povo, com o interesse nacional. Tudo que se fez até agora revela uma incapacidade profunda de oferecer uma estratégia de desenvolvimento para o país. De maneira que a gente precisa ajudar o povo a transformar a justa queixa e a revolta que está crescendo no Brasil num projeto de esperança de que a gente possa colocar uma coisa nova no lugar", declarou.
Sobre a afirmação que havia feito em 2018 de que deixaria a política se Bolsonaro vencesse a eleição, Ciro Gomes disse à Sputnik que tal declaração foi feita, na ocasião, em um momento em que estava de "cabeça quente" e que não tem "direito de fugir da luta". Além disso, ele justificou a sua ausência no segundo turno, em um eventual apoio a Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, dizendo que não queria fazer campanha ao lado de pessoas que ele considera responsáveis por sérios problemas que estão acontecendo no país.
Negando as especulações de que poderia ser ministro em uma possível administração de Haddad ou que o mesmo poderia compor um hipotético governo seu — caso um dos dois tivesse sido eleito, Ciro disse ter uma boa impressão do candidato petista nas últimas eleições. No entanto, para ele, o ex-prefeito de São Paulo merece ser criticado tanto por ter participado de uma tentativa de enganar a população de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia disputar a presidência quanto por ter aceitado como coordenador de campanha alguém como José Sérgio Gabrielli, alvo de investigações por irregularidades cometidas na Petrobras durante o período em que presidiu a empresa.
"Acho que ele não é membro desse lado quadrilha do PT e acho que é uma pessoa que tem espírito público e tal", declarou Ciro sobre Haddad. "Mas eu jamais o convidaria para ser ministro do meu governo, muito menos com a antecedência de uma eleição", acrescentou, dizendo não se considerar responsável pela derrota do petista no segundo turno, que ele atribui às decisões erradas tomadas pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos anos.
Para 2022, embora ainda não tenha confirmado sua participação na eleição, o candidato pedetista em 2018 concorda que é possível termos um pleito marcado por disputas entre governadores e ex-governadores, dadas as sinalizações feitas até o momento.
"É bem possível, porque no Brasil também se faz isso com nosso povo. Você mal entra num cargo e já está especulando despudoradamente sobre as disputas no futuro. Não sabe se fez bem a coisa, se está governando bem, se revelou condição de combate à corrupção, se revelou prioridade correta às questões da saúde, da segurança… Mas já são candidatos. O exemplo mais prático — e, para mim, absolutamente chocante — é o Doria [governador de São Paulo]. Mas o Witzel lá, agora, no Rio de Janeiro, também é candidato. E nosso povo precisa ver se quer mais do mesmo ou se quer mudar."