Após o desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, surgiram relatos na imprensa de que milicianos estariam por trás das construções irregulares que foram abaixo no último dia 12, matando ao menos 20 pessoas e deixando outras três desaparecidas. Nesta sexta-feira, a justiça decretou a prisão temporária de três investigados no caso, suspeitos de construir e vender os apartamentos destruídos.
De acordo com Robson Rodrigues, coronel da reserva da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, ex-comandante do Estado-Maior da PMERJ e ex-comandante de várias unidades da PM, ao contrário do narcotráfico, as milícias apresentam uma estrutura de operação mais complexa, o que dificulta o combate. Para ele, há uma flagrante ineficiência das forças policiais, das agências de controle e do Ministério Público no enfrentamento desses grupos, contra os quais seria necessária a implantação de uma força-tarefa bem estruturada para conter seu avanço.
"Deveria ter, sim, um trabalho de inteligência muito mais eficaz, trabalhando em cima dos lucros, naquilo que não é muito visibilizado para as forças de segurança preventiva, no caso, a Polícia Militar", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil. "Então, é preciso uma força-tarefa muito mais estruturada, com inteligência suficiente para atuar nesse fluxo do dinheiro e com uma certa especialização nesse tipo de criminalidade."
"Outro problema é o das próprias forças de polícia, do próprio sistema de justiça criminal e segurança pública, que é um sistema míope. A gente está muito mais voltado e muito mais capaz para as coisas muito mais visíveis, aquilo que não precisa de uma inteligência, de uma investigação muito mais aprofundada, especializada, com um investimento intelectual muito mais forte, uma capacidade, uma qualificação, meios tecnológicos de investigação."
Ainda segundo o coronel, outro fator importante a se destacar é que as milícias cariocas têm mudado o seu comportamento ao longo dos últimos tempos, adotando uma postura mais ostensiva, mais violenta, menos preocupadas em fazer propagandas sobre uma suposta intenção de combater a criminalidade local.
"Essa violência, esse terror que impõe o medo, que dificulta as investigações, isso é uma tática que já vinha sendo feita pelo narcotráfico e a milícia lançava mão poucas vezes disso. Mas, recentemente, a milícia tem se igualado nessa tática de terror, tal qual o narcotráfico."