Notícias do Brasil

Ambientalista: enfraquecimento do Código Florestal favorece ocupação criminosa de terras

Segundo especialista, Brasil vai perder mais de 20 milhões de hectares de mata com a aprovação das alterações do Código Florestal em tramitação no Congresso.
Sputnik

Com o desmatamento crescente na Amazônia Brasileira, ambientalistas e ONGs alertam para os perigos do o PLV 9/2019, o Projeto de Lei de Conversão da MP (Medida Provisória) 867, que pretende alterar o Código Florestal. 

Desmatamento na Amazônia bate recorde pelas mãos de madeireiros e do agronegócio
O projeto que tinha um único objetivo: ampliar o prazo para que os produtores rurais pudessem aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), recebeu diversos "jabutis", que desconfiguram a legislação da área. 

A medida já foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. O alerta de enfraquecimento do Código Florestal foi feito também em um documento assinado por oito ex-ministros do Meio Ambiente em que eles alertam que a governança socioambiental do Brasil está sendo desmontada.

O que pode representar para a Amazônia essa mudança no Código Florestal? Após a aprovação na Comissão Mista, há esperanças de barrar as alterações no plenário?

Sputnik Brasil conversou sobre o tema com ambientalista Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica e ele foi categórico:

"Acontecendo o que está nessa Medida Provisória hoje, o Brasil vai perder mais de 20 milhões de hectares de floresta, entre todos os biomas brasileiros", alertou o especialista.

Brasil segue no Acordo de Paris, diz ministro do Meio Ambiente
O ambientalista explicou que, segundo o acordo de Paris o Brasil deve recuperar 12 milhões de hectares de florestas. Ou seja, com a posição atual mantida, o governo estaria "rasgando" o acordo de Paris.

Segundo Mantovani, um dos principais problemas das alterações em tramite é a proposta para de anistia para as atuais irregularidades. Ele teme a volta do processo de degradação da mata, que a longo prazo e médio afeta o clima e a fertilidade, bem como o abastecimento de água das cidades.

"É um risco grande para a sociedade a gente ver essa devastação ambiental. As medidas que estão nessa proposta vão acabar fazendo um grande desastre", ponderou o ativista.

"Essa é uma anistia irresponsável, que pode por o Brasil em situação muito grave. Principalmente na questão da água".

O interlocutor da Sputnik Brasil revelou que a fundação SOS Mata Atlântica, em conjunto com outros grupos está pressionando o Congresso para anular as alterações e defende o texto original da MP.

"Estamos tentando chamar a atenção do presidente da Câmara e do presidente do Senado, de que isso é um desserviço. Uma situação que vai colocar em risco a fiscalização nos estados. Vai colocar em risco todo mundo", alertou.

Bolsonaro critica suposta 'indústria da demarcação de terras indígenas'
Segundo ele, mesmo alguns membros da bancada ruralista são contra as modificações, pois podem prejudicar o comércio exterior.

Além disso, o Mantovani chamou atenção para outro problema. As atuais modificações favorecem aqueles que ocuparam terras de forma irregular.

"O maior problema ambiental brasileiro é fundiário. É a ocupação de terras nossas, suas, de todos os Brasileiros…Querem ocupar de forma a ampliar os seus patrimônios", alegou o entrevistado. 

"Devemos ter atenção, pois a MP possibilita ocupação ilegal e criminosa de terras".

Por outro lado, com o atual governo, a defesa do meio ambiente está sendo mais dificil, reclamou o ambientalista. 

"Esse congresso está sendo capturado pela banda podre da bancada ruralista…porque o governo garantiu mais 180 bilhões para o agronegócio", apesar das crise na saúde e dos cortes na educação.

Ele acrescentou que "20% dos proprietários tem 80% das terras e são eles que buscam o crédito", enquanto os pequenos proprietários "não tem acesso ao crédito". Ou seja, as atuais mudanças favorecem poucos.

Comentar