Na quinta-feira (16), a notícia de que uma nova barragem da Vale poderia se romper lançou um sinal de alerta sobre o tema. A própria empresa assume que a barragem de Barão de Cocais, no estado de Minas Gerais, pode se romper entre os dias 19 e 25 de maio.
Para José Lyra, engenheiro civil especializado em engenharia estrutural e prevenção, a forma como as barragens são construídas está incorreta.
"A forma como eles fazem essas barragens é uma barragem que vai aumentando a altura. Então, eles não fazem uma barragem para receber o material até aquela altura. Não, eles fazem um acréscimo da barragem para receber outra altura, outro acréscimo da barragem… Então, esse é um processo perigoso", afirma José Lyra.
O engenheiro acredita que uma maneira eficiente de se se construir essas barragens com segurança seria construindo mini-barragens à jusante, de forma que possíveis rompimentos pudessem ser contidos.
Com isso, caso um rompimento ocorresse, a lama teria sua velocidade reduzida e dessa forma a o desastre seria menor.
"Do jeito que existe quando ela rompe, ela pega o canal e sai tomando velocidade", explica.
O engenheiro explica também porque a barragem acumula lama como resultado da extração de minério.
"Esse é um processo de lavagem para tirar a terra do ferro. Então você faz essa limpeza, e com isso, injetando água no conjunto você não consegue secar depois essa água", afirma. Lyra explica que é tamanha a quantidade de lama produzida, que é necessária a instalação de barragens.
"O ideal era você ter uma área muito grande para colocar essa lama para que no contato com o ar em uma área maior, e não acumulada, ela pudesse secar", acrescenta o engenheiro.
"Burrice atroz": barragem não pode ter pessoas morando por perto
O engenheiro José Lyra critica aspectos encontrados na barragem de Brumadinho e também em outras, como a proximidade com cidades e a construção, por exemplo, de um refeitório próximo da barragem.
"O que não pode ter é vizinhança ocupada[…]. Se existir alguma coisa de casas, alguma construção à jusante, na parte de baixo, você tem que deslocar para que essa cidade crie uma cidade nova em um local seguro", critica.
Para Lyra, a única medida realmente segura para evitar mortes seria o deslocamento das pessoas que vivem nas proximidades da barragem. Sem isso, ele afirma, resta apenas o "medo" para os moradores.
"Com as atividades de uma burrice atroz feita pela Vale, o cara tem mesmo é que ficar com medo. Não cabe outra coisa a fazer", diz.
O engenheiro conclui lembrando do desastre de Mariana, em 2015, que deixou 19 mortos e devastou o ecossistema da região.
"Depois de Mariana eles não terem feito nada no sentido de tirar as pessoas da rota de descida é inacreditável. Uma companhia internacional não poderia fazer uma falha dessa ordem', conclui.