Segundo um artigo recém-publicado na Bloomberg, Lisboa introduziu incentivos fiscais há uma década, na tentativa de atrair estrangeiros ricos para o sul da Europa.
Em 2012, Portugal então começou a conceder autorizações de residência a não europeus que compraram imóveis no valor de mais de 500 mil euros. Esse incentivo imigratório foi seguido por um boom turístico e imobiliário que ajudou a economia a apresentar o seu crescimento mais forte em quase duas décadas em 2017.
O autor da matéria também explica que tal fenômeno levou a um retrocesso entre os portugueses, que se viram expulsos do mercado imobiliário à medida que a nova demanda elevou os valores.
De acordo com a Associação dos Profissionais e Corretores Imobiliários de Portugal, os franceses foram os maiores compradores estrangeiros de casas em Portugal em 2017, representando 29% do investimento imobiliário estrangeiro.
O diretor da associação de corretores de Lisboa, Luis Lima, afirma que os brasileiros pertencentes a uma classe social mais elevada, "estão comprando casas por todos os lados".
Portugal começou a mudar após ter concluído seu programa de resgate internacional em 2014 e depois de ter passado por um íngreme crescimento turístico e imobiliário, transformando cidades inteiras com hotéis, restaurantes com estrelas Michelin e apartamentos e lojas de luxo para estrangeiros.
"Os incentivos fiscais e a percepção de Portugal como um lugar seguro - que ficou em quarto lugar no Índice Global de Paz de 2018 – foram a cereja do bolo para muitos brasileiros", ressalta a edição.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou que o Brasil foi um dos países com o mais alto índice de homicídios do mundo, com uma média de 175 mortos por dia em 2017.
Para muitos portugueses, que se queixam dos preços elevados do mercado imobiliário que quase duplicaram nos últimos seis anos para atrair estrangeiros, essa é uma causa de preocupação.
O artigo destaca, citando dados do Instituto Nacional de Estatística, que os preços médios das casas em Lisboa subiram 23,5% em 2018, atingindo uma média de 3.010 euros por metro quadrado, enquanto o salário médio mensal líquido dos trabalhadores portugueses aumentou 3,7% para 888 euros. Ainda assim, os imóveis de luxo em Lisboa continuam sendo muito mais baratos do que em cidades como Londres ou Nova York.
"Isso é muito triste […] Os preços estão fora de controle. Mesmo as pessoas com emprego não podem viver na cidade", relata Isabel Sá da Bandeira, que dirige uma organização sediada em Lisboa chamada People Live Here.
O empresário brasileiro Ricardo Bellino, citado pelo colunista, depois de mais de uma década vivendo em Miami, decidiu se mudar para Portugal, onde se beneficiará de uma taxa fixa de imposto sobre o rendimento de 20% e poderá ter direito a uma pensão isenta de impostos quando se aposentar.
"Era uma oportunidade de viver em um paraíso fiscal que não fosse uma ilha das Caraíbas […] Eu normalmente vejo uma oportunidade de negócio onde há uma crise", disse o multimilionário, cujo avô era português.
Para o ministro português da Economia, Pedro Siza Vieira, a falta de habitação a preços acessíveis em alguns centros urbanos portugueses "é uma preocupação". Ele destaca que esse fenômeno global gera um "problema social".