Falando dias depois que os EUA anunciaram uma conferência em maio no Bahrein para apresentar os aspectos econômicos de seu esperado plano de paz israelense-palestino, o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertou para um "negócio ameaçador que visa eliminar a causa palestina".
Ele declarou que o foco da conferência em questões econômicas "pode abrir a porta para a questão de naturalizar os irmãos palestinos no Líbano e os países onde eles estão localizados".
O direito de retorno para mais de 700.000 refugiados que foram expulsos ou fugiram durante a criação do Estado de Israel no final dos anos 1940 — e seus milhões de descendentes — é um pilar fundamental da causa palestina.
A grande maioria apega-se firmemente às esperanças, consagradas em uma importante resolução do Conselho de Segurança da ONU, de retornar às terras que suas famílias possuíam, mas que agora estão dentro de Israel.
Estima-se que 174 mil refugiados palestinos vivem no Líbano, segundo um censo feito pelas autoridades nacionais em 2017. A ONU estima que existam dezenas de milhares mais.
O Hezbollah há muito defende a causa palestina, mas a presença palestina é controversa no Líbano, onde muitos os culpam por causar a amarga guerra civil que devastou o país entre 1975 e 1990.
Os campos palestinos do Líbano sofrem com a pobreza, superlotação, desemprego, condições de moradia precárias e perigosas e falta de infraestrutura.
Hoje, "não é suficiente dizer que somos todos contra a naturalização — o perigo da naturalização está se aproximando", comentou Nasrallah durante um discurso televisionado que marcou o 19º aniversário da retirada de Israel do sul do Líbano.
Ele pediu uma reunião urgente entre o governo e as autoridades palestinas no Líbano para "desenvolver um plano para enfrentar o perigo".
Os palestinos boicotaram o governo dos EUA desde dezembro de 2017, quando Trump rompeu com décadas de consenso internacional e reconheceu Jerusalém como a capital de Israel.
Os palestinos consideram a parte oriental da cidade a capital do seu futuro Estado, temem que o plano dos EUA seja fortemente tendencioso em favor de Israel.
A liderança palestina disse que vai boicotar a reunião de 25 a 26 de junho em Manama, onde o objetivo declarado é promover a prosperidade palestina como parte do "acordo do século" de Trump.
Espera-se que a administração Trump revele seu tão aguardado plano possivelmente já no próximo mês.
A conferência do Bahrein pode ver promessas de investimento em larga escala para os territórios palestinos, mas é improvável que se concentre fortemente nas questões políticas no centro do conflito, como a questão dos refugiados palestinos.