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O que Brasil pode ganhar com Brexit?

Em audiência pública no Senado brasileiro, um membro do tradicional King’s College, de Londres, afirmou na última semana que o Brasil poderia ser beneficiado pelo Brexit, dependendo das mudanças nas relações comerciais do Reino Unido após sua saída da União Europeia. Mas quais são as reais perspectivas brasileiras em relação ao mercado britânico?
Sputnik

Em declarações durante uma sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), na quinta-feira passada, o cientista político inglês Anthony Pereira, diretor do King's Brazil Institute, disse ver um bom potencial no agronegócio brasileiro para se aproveitar de eventuais espaços deixados por países da UE após o rompimento formal entre o Reino Unido e o bloco. Segundo ele, historicamente, a Grã-Bretanha não é adepta a uma ampla adoção de barreiras agrícolas como outros países europeus, o que tornaria o seu mercado mais acessível.

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"Só para ficar num exemplo, hoje uma porcentagem alta de produtos alimentícios importados pelo país são provenientes da Europa continental. Mas essas cotas de importação não são necessariamente fixas. Esse mercado britânico pode ser aberto para produtores brasileiros, que são muito eficientes na agricultura", disse Pereira, citado pela Agência Senado.

Além da potencial abertura de mercado para o agronegócio brasileiro, o especialista também destaca a possibilidade de um acordo comercial entre o Reino Unido e o Mercosul após o Brexit, algo que o bloco sul-americano vem tentando costurar há mais de 20 anos com a União Europeia, sem sucesso, e que também beneficiaria o Brasil.

"Penso que as barreiras neste caso seriam muito menores. Não duvido que um acordo UE-Mercosul acabe jamais saindo do papel." 

Para o especialista em Economia Agrícola Agostinho Celso Pascalicchio, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de fato são boas as chances de o Brasil se beneficiar da saída do Reino Unido da UE. De acordo com ele, o potencial do agronegócio brasileiro a ser explorado no mercado britânico diz respeito principalmente a possíveis contratos para o fornecimento de carnes e derivados, além de alguns produtos agrícolas.

"O potencial é muito grande. E, aí, é um novo mercado, com novos gostos, a também explorar", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil. "Pode significar algumas novas alternativas até para os produtores brasileiros."

Apesar dessa perspectiva interessante, se o Brasil quiser aproveitar desse cenário, provavelmente, terá que esperar. Pascalicchio ressalta que, desde antes do caso do Brexit, o Reino Unido é famoso por demorar a tomar decisões, e o atual processo, segundo ele, é mais um reflexo dessa característica. 

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"Nesses processos de decisões mais sofisticadas, nós observamos sistematicamente uma certa demora no processo de fechamento de itens tão significativos como esse."

Ainda de acordo com o professor, mesmo sendo favorável à permanência dos Estados dentro de projetos de integração, ele entende que, muitas vezes, essa união acaba afetando a possibilidade de entrada de novos parceiros em determinados mercados que poderiam ser mais explorados.

"Particularmente, sou favorável à não saída da Inglaterra da União Europeia. Eles já vêm perdendo itens importantes dentro do mercado financeiro. E, é claro, pode ser que novas possibilidades ocorram, principalmente na área agrícola", disse ele, argumentando que, talvez, a saída mais rápida para o atual impasse relacionado ao Brexit seja de fato a realização de um novo referendo na Grã-Bretanha. 

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